No dia consagrado a São Pedro (29 de junho), a Igreja Católica havia determinado uma excepcionalidade para que boa parte do Brasil comemorasse a ascensão de São Benedito Gonçalves à condição de novo padroeiro dos defensores da democracia. A ordem da terceira penitência consagradora da paz foi de sua reverendíssima papal que, do alto de sua argentinidade, está pra lá de radiante com a fulgurante amizade entre Luiz Inácio e o hermano. Francisco torce pela perpetuação da relação, de modo a evitar que, com uma única sapecada churrasqueante, mande para as profundezas da Sibéria o capetão doutrinador Messias e a capetona derrubadora Cristina Kirchner.
Papa Francisco havia pensado em tudo, menos no surgimento repentino de um romão cearense metido a frade francês na bancada de ministros do Tribunal Superior Eleitoral. E foi justamente ele, o já ex-milagreiro do Nordeste, que quase aplicou no povo brasileiro um novo conto do vigário. Na verdade, uma pirueta do tipo golpismo nos colegas. Novo porque, não fosse a rápida ação dos querubins Floriano Azevedo Marques Neto e André Ramos Tavares, São Raul dos Araújos, mais um santo do pau oco, poderia ter melado a sessão do Tribunal Superior Eleitoral com uma metodologia diferente para uma prece que ele referendou não faz muito tempo, algo como pouco mais de quatro meses.
Mas o que São Raul fez de tão grave? Mudou de ideia sobre a inclusão da minuta do golpe na ação contra Bolsonaro. E por que mudou de uma hora para outra? Dizem as linguarudas beatas da orla de Fortaleza que, na última hora, sua excelência recebeu um recado do anjo bajulador e um comando do espírito de São Nicolau, informando que, caso ele não alterasse a ordem, seria maculado em praça pública e obrigado a sacudir aquilo que os machos alfas fogem de pavor. Coincidentemente é aquela coisa bamba que rima com Nicolau. Tá aí a explicação pelas equivocadas e repetidas confusões do ministro a respeito dos termos nexo e sexo.
Refazer as ideias e dizer que não há nexo entre a utilização do Palácio da Alvorada para o candidato Jair Messias atacar o sistema de votação do país que ele presidia e o golpismo é, no mínimo, achar que o sexo só é bom entre os caranguejos dos mangues cearenses. São Raul não viu gravidade nisso. Também não percebeu que Jair não pode ser tratado como um qualquer nesse tipo de julgamento. Afinal, na condição de presidente da República, ele se utilizou de um prédio e de recursos públicos para desancar, interna e externamente, a Justiça Eleitoral, uma das instituições mais sérias do país. Curiosamente, é a instituição a que São Raul serve e jurou defender. Coisas da outra parte do Brasil, a que se diz terrivelmente evangélica
Será que Raul estava no lugar errado? Pode ser. Talvez tenha confundido o templo da lei com o das ilações sobre uma minuta golpista que ele sugere inexistente ou inválida. Com todas as vênias e ave marias e ainda manuseando o terço vermelho na mão esquerda, começo a ter dúvidas a respeito da capacidade de São Raul sobre os ensinamentos de Francisco: “Nunca coloque um ponto de interrogação onde Deus já colocou um ponto final”. O moço não captou a mensagem. Na minha catequizante opinião, como o ex-seguidor de Padim Ciço roeu a corda e não viu gravidade no uso do Alvorada para uma reunião golpista, proponho que ele seja matriculado na escola de formação de escoteiros do camarada russo Yevgeny Prigozhin.
Quem sabe ele não aprende que nem Vladimir Putin conseguiu conter o Prigozhão do Cerrado. Foi preciso a brilhante capilaridade do arcebispo Xandão para acalmar o criador de dogmas criminosos, maledicentes e antidemocratas. Foi o que o mito do além tentou com a leva de embaixadores no Alvorada. São Raul não viu, mas os olhares atentos de Dom Alexandre de Moraes ajudaram os querubins Floriano e Ramos a usar a força do trator da legalidade contra os abusos do capetão. Silencioso, São Benedito Gonçalves aguarda apenas a consolidação de sua memorável homilia. A expectativa de todos os santos, anjos, arcanjos e até do demo é que, nesta sexta-feira (30), seja feita a vontade do Pai Eterno: 5 a 2 pela inelegibilidade. Improvável, mas, se der 6 a 1, a festa no céu será até o raiar do primeiro de julho.