Com menos de 1cm, um mosquito vem tirando o sono de muitos brasileiros. Ao mesmo tempo, está unindo cada vez mais os moradores da Zona Oeste. A preocupação com zika, dengue e chikungunya fez com que grupos se organizassem em prol de uma faxina geral e da conscientização dos vizinhos sobre o perigo da proliferação do Aedes aegypti.
Engajados, os alunos do Laboratório Multidisciplinar de Estatística e Matemática Aplicada (Lema) da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo) estão elaborando o projeto Xô, Zika de Campo, usando drones com câmeras para identificar criadouros. A ideia é mapear áreas de risco e informar população e poder público.
O objetivo é semelhante ao do Corpo de Bombeiros e ao da Defesa Civil Estadual, que usam essas pequenas aeronaves não tripuladas para fiscalizar áreas de difícil acesso, como telhas e casas fechadas. Porém, enquanto o estado usa um aparelho comprado, a universidade conta com um drone feito pelos próprios alunos, controlado virtualmente sem a necessidade de um piloto capacitado para isso.
— A principal diferença é que ele vai armazenar dados para que a população possa verificar quais são os pontos que têm mais focos e assim tentar exterminá-los — explica Douglas Monteiro, ex-aluno da Uezo, idealizador e investidor do projeto, que já começou a mapear a área no entorno da universidade.
Com a vontade de investir no local onde tanto aprendeu e preocupado com a infestação do Aedes aegypti na região, Douglas apresentou a ideia à coordenadora do laboratório, Rosana da Paz Ferreira, no início deste ano. E, apesar das greves e dos problemas financeiros, todos entraram de cabeça no combate ao mosquito.
— O projeto é importante porque estamos cuidando da saúde de nosso bairro, e os alunos estão podendo aplicar o que aprendem em sala de aula. Nesse combate ao mosquito, eles encontrarão muita Matemática — comemora Rosana, que busca mais investimento privado para o projeto.
Douglas explica que, após a área da Uezo, o objetivo é expandir a procura por focos em outros lugares da Zona Oeste. Os alunos ressaltam que não é preciso se preocupar com privacidade, já que a aeronave será programada para captar imagens apenas de água parada.
Bairros problemáticos
Somente de janeiro a março deste ano, foram registrados 912 casos de dengue nas Áreas Programáticas (AP) 5.1 (Deodoro, Vila Militar, Campos dos Afonsos, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo, Bangu, Padre Miguel, Senador Camará e Gericinó), 5.2 (Santíssimo, Campo Grande, Senador Vasconcelos, Inhoaíba, Cosmos, Guaratiba, Barra de Guaratiba e Pedra de Guaratiba) e 5.3 (Paciência, Santa Cruz e Sepetiba). Além disso, o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizado entre os dias 18 e 24 de fevereiro em imóveis de dez regiões, indicou que grande parte da Zona Oeste está em situação de alerta.
— Conheço muitas pessoas que já tiveram dengue ou zika pelo bairro. Além de cuidar do nosso quintal, precisamos pensar em formas de cuidar também da vizinhança — ressalta Luiz Bruno Vianna, aluno do Lema.
Em Santa Cruz, em março, 600 adolescentes do Colégio Estadual Erich Walter Heine saíram às ruas do Conjunto João Vinte e Três para orientar os vizinhos no combate ao mosquito. A professora de Biologia Mônica Leite Soares organiza caminhadas para orientar moradores da região há cinco anos, desde que começou a lecionar na unidade, com o projeto Atitude Verde: Ação 3S — Sustentabilidade, Saúde e Sociedade, que tem como objetivo recolher óleo de cozinha e transformá-lo em sabonete. Este ano, com os muitos casos de zika, denque e chikungunya, ela resolveu também orientar os vizinhos a respeito dos focos do mosquito.
— Muitos jovens da escola tiveram dengue, e isso preocupa. Se conseguimos atingir os alunos, atingimos os vizinhos deles, que levam as informações a outras pessoas — diz Mônica.