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Controle de Dopagem quer recorrer da decisão que inocentou Uênia Fernandes

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Demétrio Vecchioli

Flagrada em exame antidoping surpresa em outubro, a ciclista Uênia Fernandes foi absolvida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Em julgamento realizado na semana passada, o STJD entendeu que supostos erros de procedimento na colheita do exame invalidam o resultado adverso para EPO (eritripoetina), hormônio sintético utilizado para produzir glóbulos vermelhos e ajudar na resistência. A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) tenta invalidar o julgamento, alegando que não foi intimada a participar dele, como manda o Código Brasileiro Antidoping.

“O exame teve uma série de irregularidades. Os atletas não puderam se hidratar. As pessoas que foram tentar tirar o sangue eram incapazes, chegaram a ferir os atletas. Teve atleta que teve que aguardar até 1h da manhã ou mais. O STJD entendeu que havia o risco de contaminação da amostra. O positivo do outro atleta (Alex Arseno) pode ter contaminado o dela”, argumenta Itamar Côrtes, defensor de Uênia.

A versão defendida por Côrtes, e que convenceu o STJD do ciclismo, é fortemente rebatida por Luis Horta, um dos maiores especialistas mundiais no combate ao doping, ex-presidente da agência antidoping portuguesa e do conselho dos laboratórios da Agência Mundial Antidoping (Wada). Foi o médico português, consultor da ABCD, quem comandou o exame surpresa realizado na seleção brasileira que viria a disputar os Jogos Mundiais Militares, ganhando o bronze por equipes no feminino.

“Nada disso aconteceu. Havia três oficiais, além da minha pessoa O controle foi muito prolongado, realmente. Começamos às 16h e terminou um pouco antes da meia-noite, porque muitos atletas propositadamente se hiperidrataram, porque a amostra diluída é inválida. Eu mesmo comprei 20 garrafas da água a pedido deles”, contou Horta.

De acordo com o especialista, Uênia foi uma das responsáveis por prolongar o exame. “Ela teve uma série de urinas diluídas, que não foram aceitas. Só a última, colhida às 23h, teve uma densidade adequada, por isso foi enviada para a análise. Todas as amostras diluídas deram negativo e isso demonstra que o controle deveria mesmo ter sido prolongado.” Como o resultado adverso foi por EPO, seguindo o que rege a Wada, a ABCD consultou um segundo perito mundial capacitado, que comprovou o EPO, para só então apontar o doping.

O procedimento para casos de doping por EPO é conhecido do clã Fernandes. Márcia, prima de Uênia, teve resultado analítico adverso para o hormônio sintético após ser campeã brasileira de 2014. Naquela competição, só as campeãs do adulto (Márcia) e do sub-23 (Nayara Gomes Ramos) foram submetidas a exames antidoping Ambas deram positivo para EPO e foram suspensas por dois anos.

Clemilda, irmã de Márcia, testou positivo para EPO em 2009, em exame realizado durante o Giro Rosa (versão feminina do Giro D’Itália). Neste ano, Uênia foi quem disputou o Giro, terminando no 42.º lugar. Por conta da participação nesta volta ciclística, ela não esteve nos Jogos Pan-Americanos.

Representante do Brasil em Toronto, Clemilda não teve amostra de sangue colhida em Deodoro, porque, após três tentativas, o profissional responsável não conseguiu “encontrar” uma veia. “Eu sou médico e posso atestar que, como ela tem umas veias muito muito difíceis, foi mesmo impossível. E o código fala que só pode fazer três tentativas”, explica Horta. O teste de Janildes, que nunca foi pega no doping, deu negativo.

As três fazem parte do programa de alto rendimento das Forças Armadas. Uênia, como as primas, é 3º sargento da Força Aérea Brasileira (FAB). Com a mesma patente, Alex Arseno também testou positivo para EPO no exame surpresa comandado pela ABCD em outubro. O ciclista, que é reincidente, se desculpou por uma rede social e anunciou que vai se aposentar.

estadao

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