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Conversa vazada põe Pimenta na Câmara e Sidônio na Esplanada

As paredes têm ouvidos. Inclusive as do terceiro andar do Palácio do Planalto. De lá, como em forma de conto, ecoaram as vozes de Lula e de Sidônio Palmeira.

O presidente, cansado da avalanche de críticas que parecem preencher mais espaço nas redes sociais do que as boas notícias, decidiu chamar para uma conversa seu hoje favorito marqueteiro.

Foi Sidônio, conhecido por sua criatividade e ousadia, que levou nas costas a campanha vitoriosa de 2022.

O baiano entrou no gabinete presidencial dia desses, com um ar descontraído, vestindo uma camisa florida e mostrando no rosto um sorriso que parecia desafiar o formalismo do ambiente.

O presidente saudou-o com um aperto de mão firme.

— Sidônio, o que falta é mostrar o que estamos fazendo. Temos resultados, projetos, mas a narrativa contra é mais barulhenta. Quero ideias para uma comunicação mais agressiva e eficaz. Algo que mostre à sociedade o impacto do nosso trabalho — disse o presidente, sem rodeios.

Sidônio coçou o queixo. E respondeu:

— Presidente, aí está o desafio. Não basta comunicar. É preciso emocionar. Qualquer dado vira números frios se não tocar no coração das pessoas. Precisamos contar histórias, criar uma conexão humana.

— Histórias? Dê-me um exemplo.

Sidônio pensou por um momento e começou a explicar:

— Digamos que uma família do interior do Maranhão finalmente conseguiu acesso à água potável graças a um determinado programa. Em vez de apenas falar sobre o número de cisternas construídas, mostramos a rotina dessa família antes e depois. O menino que agora vai à escola porque não precisa mais buscar água no rio. A mãe que consegue plantar uma horta. Esse é o tipo de coisa que faz as pessoas entenderem o impacto real.

O presidente assentiu com a cabeça, pensativo.

— E como levar isso adiante?

Sidônio, animado, continuou:

— Redes sociais, claro, mas também é hora de humanizar os discursos. E por que não trazer influenciadores que conectem o governo com a juventude? Criar uma plataforma onde qualquer pessoa possa acompanhar os projetos em tempo real. Fazer ‘lives’ diretamente de obras, escolas, hospitais. Quebrar a formalidade. Mostrar que o governo é feito por pessoas, para pessoas.

— E o tom agressivo que conversamos? — perguntou o presidente, arqueando as sobrancelhas. e ajustando os óculos.

— Agressivo não significa hostil, presidente. Significa constante, estrategicamente implacável. Não deixar espaço para a dúvida, mas sempre com empatia. Porque agressão sem empatia vira ruído.

O presidente esboçou um sorriso discreto, como quem aprova, mas ainda avalia.

— Sidônio, gosto da sua energia. Vamos para a prática. Quero propostas concretas em uma semana. Atrele pessoas aos programas, mostre os rostos e as vidas transformadas.

— Deixe comigo, presidente. Vamos virar esse jogo.

– Conto vom você. Aliás, se estou aqui pela terceira vez, você tem uma grande parcela de responsabilidade para que meu governo dê certo.

– Não basta governar bem, presidente; é essencial comunicar bem. Isso ganha ainda mais relevância no seu terceiro mandato, em que o desafio de reconstruir a confiança e o diálogo com diversos setores da sociedade é intenso.

Ao sair do gabinete, Sidônio já rabiscava ideias no bloco de notas de seu tablet. Esse baiano sabe que transformar a comunicação de um governo inteiro será um desafio monumental, mas também enxergou ali a chance de deixar definitivamente sua marca na história. E, quem sabe, transportar Lula de volta ao coração dos brasileiros.

Sidônio sabe como poucos – isso é unanimidade no mercado publicitário -, que a busca por uma política de comunicação social mais agressiva reflete a percepção de que, em tempos de informação fluida e polarização política, as ações de governo precisam de narrativas claras e contidas.

Depois dessa conversa vazada, começou a correr entre ouvidos de petistas que pimenta produzida com picaretagem (e não picaretas) vai arder na Câmara.

A propósito, como é mesmo aquela famosa frase de Lula sobre um tal grupo de trezentos? Conta-se no conto que se a fala presidencial for agora reeditada, serão 301 picaretas. Porque pimenta que arde gostoso e dá resultados serve apenas para acarajé e vatapá. Se colocar na cuia, o chimarrão transborda, queimando de vez a língua de falastrões.

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