Roberta Pennafort
Réu por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Hudson Braga, ex-secretário de Obras do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), disse nesta terça-feira, 2, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que ficou, em 2014, com R$ 3 milhões de “sobras de campanha”, arrecadados via caixa 2, do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ele foi coordenador da campanha.
Braga fez a afirmação ao se referir à transportadora de valores Transexpert, apontada nas investigações como “caixa-forte” do esquema de corrupção liderado por Cabral. Os R$ 3 milhões foram guardados pela firma. Segundo a Procuradoria da República no Rio, ele era um dos cabeças da organização criminosa tocada por Cabral em seus dois mandatos no governo do Estado (2007 a 2014) em conluio com grandes empreiteiras.
O ex-secretário confirmou operar uma “taxa de oxigênio” própria, para além da “taxa” do esquema do então governador. Recebia 1% dos contratos de obras de vulto fechados pelo Estado; por exemplo, o do PAC das Favelas. O valor era fixo e chegava mensalmente, afirmou.
A propina, conforme as investigações, era paga por empresas como a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a Carioca Engenharia e a Delta Engenharia, entre outras. No entanto, Braga só respondeu a questionamentos sobre a Andrade Gutierrez. “Estou disposto a colaborar, quero abrir. Mas não é o momento”, disse. “Eu errei e estou arrependido. Minha família me cobra muito isso”. O juiz Bretas lhe perguntou se ele havia recebido ameaças ao longo do processo e ele revelou, sem dar mais detalhes: “Não estou tranquilo”.
O ex-secretário afirmou ainda que não foi o criador da chamada “taxa de oxigênio” da organização de Cabral – e sim o então secretário de Governo de Cabral, Wilson Carlos. Ele afirmou ainda que a justificativa para o esquema de propina era que o salário dos servidores da Secretaria de Obras era baixo, sendo necessários aportes maiores.
“Sou um técnico. Não fui eu que criei isso. Fui convocado no fim de 2007, início de 2008, pelo secretário Wilson Carlos, que me relatou que existiam diversas queixas do valor do pagamento do salário que o Estado remunerava, e que ele tinha conversado com a Andrade Gutierrez para que contribuísse com 1% para melhorar o salário das pessoas envolvidas nesses projetos (obras)”, explicou.
“Ele me deu essa orientação. Eu organizei isso juntamente com Wagner Garcia (ex-assessor de Cabral), que ficou responsável por esse recolhimento e pagamento. Meu papel foi organizar isso com a Andrade, com o Alberto Quintaes.” Ele afirmou que Garcia e Quintaes combinavam entre si a entrega do dinheiro sujo, feito em espécie, e calculado a partir da função de cada “agraciado”. Se houvesse “sobras”, elas iam para uma sala no Edifício Avenida Central, no centro do Rio, de propriedade de Garcia.
O juiz Bretas perguntou se Cabral estava ciente dos pagamentos, e o antigo colaborador do governador não respondeu. A “taxa” iria para “presidentes de empresas vinculadas (à Secretaria de Obras), subsecretários, superintendentes, assessores especiais e outras pessoas”, cujos nomes ele deu a entender que poderá revelar futuramente.
Sobre o e-mail interceptado em que Braga cobra incisivamente o pagamento da propina da Andrade Gutierrez, cujo repasse estava atrasado, ele disse que não se referia na mensagem a dinheiro ilícito: tratava-se de uma “caixinha interna” da secretaria, referente a pequenos serviços internos, como cópias xerox e encadernação.
Braga, assim como Cabral e Wilson Carlos, foi preso há seis meses na Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio, assim como o ex-governador. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça negou habeas corpus pedido a seu favor.
O ex-secretário estaria negociando acordo de delação premiada. Especula-se que ele detalharia pagamentos de propina a Pezão, sucessor de Cabral. Braga foi subsecretário da pasta quando Pezão era titular, cargo que acumulava com o de vice-governador. Quando Cabral renunciou ao governo, em 2014, para tentar se eleger senador, e Pezão assumiu, Braga virou o secretário.
O juiz Bretas já ouviu nesta terça-feira o empresário Paulo Fernandes Magalhães Pinto, um ex-assessor de Cabral apontado como laranja do ex-governador nas investigações. Ele está em prisão domiciliar. Outros réus serão ouvidos nos próximos dias.