Bartô Granja, Edição
Sem sinais bruscas de queda da inflação, o setor produtivo (incluindo a classe trabalhadora) vai continuar pagando no Brasil uma das mais altas taxas de juros do mundo. Nesta quarta (27) o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano.
A Selic influencia todos os juros do país, mas é só uma referência: as taxas cobradas dos consumidores são muito mais altas. Economistas dizem que a poupança está ruim como investimento, e o melhor são os fundos de investimento.
A decisão dos membros do Copom não era unânime desde outubro. Essa mudança foi percebida pelo mercado como uma indicação de que o BC pode começar a baixar os juros nos próximos meses.
“A decisão unânime e o tom do comunicado, além dos comentários que estão sendo feitos pelo provável novo governo, irão aumentar as apostas no corte de juros já em julho. Estamos alterando nossa previsão (de baixa) para agosto ante outubro”, disse Pedro Tuesta, economista sênior para a América Latina da 4Cast.
Nos últimos três encontros do Copom, os diretores Sidnei Corrêa Marques (Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural) e Tony Volpon (Assuntos Internacionais) votaram por elevação em 0,5 ponto percentual da Selic.
Agora, ambos acompanharam a maioria pela manutenção dos juros, em meio à desaceleração da inflação, tendo como pano de fundo um cenário de profunda recessão econômica.
Esta pode ser a última reunião do Copom da atual diretoria do BC, comandada por Alexandre Tombini. Caso o Senado aprove o afastamento da presidente Dilma Rousseff em maio, assume o vice Michel Temer, que já afirmou que pretende fazer mudanças na equipe econômica.
Juros X Inflação – Os juros são usados pelo Banco Central para tentar controlar a inflação. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a caírem. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo.
A meta é manter a inflação em 4,5% ao ano, mas há uma tolerância de 2 pontos, ou seja, pode variar entre 2,5% e 6,5%.
A inflação tem desacelerado nos últimos meses, mas ainda continua bem acima do limite máximo: chegou a 9,34% em 12 meses, segundo os dados mais recentes, da prévia da inflação (IPCA-15) em abril.
Porém, os juros também estão altos e o país está em recessão. Se o BC subir ainda mais os juros, corre o risco de fazer a economia encolher ainda mais.
Pagando o pato – A Selic é a taxa básica da economia e serve de referência para outras taxas de juros (financiamentos) e para remunerar investimentos corrigidos por ela.
Ela não representa exatamente os juros cobrados dos consumidores, que são muito mais altos.
Segundo os últimos dados divulgados pelo BC, a taxa de juros do cheque especial em fevereiro chegou a 293,9% ao ano e os juros do rotativo do cartão de crédito, a 447,5% ao ano.