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O guarda-chuva

Cornélio, como diz o nome, é ludibriado por Alzira

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Gostava de se travestir, seja de repórter investigativo, seja de astro do rock, seja de qualquer personagem que lhe trouxesse calafrios. Sentia prazer no desespero e na aflição, ainda mais diante de situações que precisava agir de supetão. Pensamentos lógicos não faziam parte do seu repertório. Agia por instintos, na maior parte imprecisos.

Argemiro Cantagalo, certa feita, engraçou-se para o lado de mulher casada. Acabou de caso sério com a tal esposa de outrem. Tudo parecia dentro dos conformes, pois o traído não desconfiou a princípio. O problema foi logo após alguns meses, quando o marido notou, assim que retornou ao lar, que os chinelos estavam molhados.

— Alzira, por acaso você usou meus chinelos?

— E eu lá ia usá-los por quê, Cornélio?

O gajo ficou com a pulga e mais um monte de insetos atrás das orelhas. Não passaria daquela semana. Se houvesse algo para ser descoberto, que fosse descoberto, custasse o que custasse. Cornélio estava disposto a pagar pelo preço, por mais elevado que fosse.

Foi na quarta-feira, que dizem ser o dia mais propício para os amantes agirem. Cornélio, que nunca chegava antes das sete da noite, tratou de fazer uma visita surpresa à esposa no meio da tarde. Mal passou a chave na porta do apartamento, parece que Alzira percebeu o barulho. Ela tratou de cutucar o amante, que dormia completamente nu ao lado.

Argemiro jogou as roupas e os sapatos pela janela. Pensou em pular. Segundo andar, um pouco alto. Melhor seria enfrentar a situação. Conversaria de homem para homem com o marido da amante e, civilizadamente, resolveria a pendenga.

O pelado, covarde como ele só, mudou de ideia, pegou o guarda-chuva que estava no canto e, antes de pular, o abriu para amortecer a queda. Não amorteceu, mas, por milagre do santo dos concubinos, safou-se quase ileso.

Cornélio, assim que abriu a porta, viu a esposa dormindo languidamente na cama. Desconfiado, vasculhou todo o quarto. Nenhuma pista. Foi até a janela e viu o guarda-chuva lá embaixo.

— Alzira, por que o meu guarda-chuva está na calçada?

— Meu amor, pra que você quer aquilo? Em Brasília nunca chove.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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