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Mistério no Lago Paranoá (VI*)

Corpo sem pernas deixa polícia de mãos atadas

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/Bionet

A Polícia Civil chegou ao local, onde estavam os jovens ainda assustados. O rapaz, completamente catatônico, não conseguia balbuciar uma única palavra. A moça apontou para os policiais onde estava o corpo.

Os agentes e o delegado entraram na água e constataram que se tratava mesmo de um corpo. Sim, o cadáver de um homem sem pernas. As duas haviam sido arrancadas na altura da cintura.

A perícia criminal foi acionada e, em seguida, o rabecão levou os restos mortais da vítima para o IML. O corpo foi identificado como sendo o de Álvaro Cattaneo. Apesar das evidentes mutilações, a causa mortis era outra. O homem
estava com os pulmões cheios d'água, o que evidenciava morte por afogamento.

A notícia correu pela capital. Além de fazer parte da ínfima parcela endinheirada de Brasília, a vítima fora encontrada sem as pernas. Não importava se a necropsia tivesse apontado como causa mortis mais um afogamento no lago Paranoá. O fato é que aquelas mutilações não poderiam ser ignoradas.

O médico legista Santino foi o primeiro a apontar o autor daquilo: um jacaré. É verdade que todos sabiam da existência desses répteis no Paranoá, mas, até o momento, ninguém conhecia casos de ataques, mesmo porque os exemplares mapeados não chegavam a três metros. Seja como for, a tese de Santino foi logo aceita pelos colegas.

Foi feito contato com o zoológico, que indicou o biólogo Sá Gomes para uma análise mais aprofundada. Na mesma semana, lá estava o especialista em crocodilianos entrando no IML, onde foi recebido por Santino e outros médicos.
Depois dos breves cumprimentos, Sá Gomes foi levado para a sala onde já se encontrava o cadáver de Álvaro.

Após quase meia hora estudando os locais das mutilações, o biólogo afirmou que o autor daquele estrago havia sido mesmo um jacaré. Sá Gomes disse que não poderia precisar se o ataque havia sido antes ou depois da morte, pois, não raro, os crocodilianos, quando diante de um presa grande, costumam afogá-las antes de se alimentar. No entanto, prosseguiu o biólogo, para que isso acontecesse, o animal deveria ser maior do que os encontrados até então no Paranoá.

– Há uma segunda vítima, disse Santino.

O médico se virou para a mesa ao lado. Ele retirou o lençol que cobria os restos mortais de Orestes, que havia sido encontrado há quase dois meses pela agente de polícia Mariane. O biólogo, depois de uma acurada análise, chegou à conclusão de que aquele estrago também havia sido feito por um jacaré. Talvez até mesmo o mesmo bicho, que, agora tinha certeza, deveria ter, no mínimo, quatro metros.

– Um jacaré-açu poderia ter feito isso.

– Jacaré o quê?, perguntou Santino.

– Açu. É a maior espécie de jacaré. Alguns machos podem ultrapassar cinco metros.

– Cinco metros?

– Sim. Mas são raros.

– E como é que um bicho desse tamanho nunca foi visto?

– Eles possuem a couraça mais escura, os mais velhos chegam a ser pretos. Mas concordo com você, pois seria muito difícil um animal desse porte passar despercebido. Ainda mais porque são muito territoriais.

– Isso significa que eles ficam em uma determinada área?

–  Exatamente.

– Isso é estranho.

– Por que estranho?

– É que as vítimas desapareceram em áreas bem distantes, além de terem sido encontradas em locais distintos.

– É mesmo estranho ou, então, há mais de um jacaré-açu no Paranoá.

*Domingo, 9, o Capítulo VII

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