Mãos ao alto! Teje morto! E, se puder, reclame com Deus. Na terra quem manda somos nós. É o que temos. Por aqui é chique matar, jogar da ponte, emparedar o povo e cagar para as autoridades. Parecem frases engraçadas e criadas para desanuviar o ambiente? Claro que não! É o modus operandi das polícias militares do Brasil, particularmente as de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Ceará. De soldado a capitão, o sistema é bruto. Fardados, eles são iguais a pimenta: poucos gostam e quase ninguém aguenta.
O sistema da rapaziada fardada e armada hoje é olho no olho, porrada nos indefesos e caixão e vela preta para quem se ofender com a truculência. Não sei mais o que dizer a paulistas, cariocas e cearenses. Antes de qualquer coisa, escondam as carteiras e façam seguro de vida. Depois, quem sabe, vale tentar ligar para a polícia para denunciar a polícia. Besteira. Povo brasileiro, o melhor é correr porque a polícia vem aí. Ou serão os ladrões. Tanto faz, pois, no Brasil, polícia e ladrão são opostos que se atraem. Já se foi o tempo em que a polícia corria atrás do que não presta.
Respeitosamente guardadas as exceções, atualmente é quem não presta que corre atrás da polícia. Tempo tenebroso esse nosso. Corporação brasileira que já mereceu respeito, a PM hoje é um amontoado de defensores da lei preocupados exclusivamente em descumprir as leis. Entregue à própria sorte, a população que se cuide. O povo chegou ao ponto crítico de gostar da polícia, mas não suportar os policiais. Estão todos cansados do bordão “O comando da PM não compactua com qualquer desvio de conduta e os abusos serão investigados”. O problema é que a conduta desviada parece regra nas polícias militares do país. Talvez porque os abusos raramente são investigados.
Eis a prova de que estamos todos à mercê da vilania e do descontrole dos batalhões. É a truculência paga com dinheiro público. Certos da impunidade, os agentes armados não se acham mais os donos do mundo. Eles agora têm certeza. Por isso, o violento desrespeito às pessoas indefesas e que não oferecem resistência. No Brasil dos “patriotas” ferrenhos, quem nunca apanhou dos pais está apanhando da polícia, especialmente a militar, notadamente as de São Paulo e do Rio de Janeiro, curiosamente estados governados por bolsonaristas de cela e de arreio.
É malhar em ferro frio, mas, para quem não se lembra, policiais militares, civis e guardas municipais são empregados do povo. Em plena democracia, a população teme muito e confia pouco nas polícias. Imaginem se o golpe tivesse dado certo. No faroeste cabrunco das grandes capitais, a vida não tem mais valor. Quanto à morte, por vezes ela tem seu preço. Há cerca de dois meses valia a retomada do poder. Não mataram porque perderam a fórmula do sucesso. Depois do fracasso do golpe, o momento não é de lutarmos somente por uma vida. Lutemos por todas elas.
O Brasil e os brasileiros não merecem PMs arrogantes, matadores, repressivos e que idolatram governantes que cortejam o autoritarismo. Acabou o tempo em que a Polícia era a guardiã da sociedade e da cidadania. Na verdade, acabou-se tudo. Uma coisa é certa: está tudo errado nas polícias do país. Seus representantes não têm nenhuma comissão de Deus para matar indistintamente. O crescimento da barbárie policial não é mera coincidência. Tudo a ver com a frustrada ruptura democrática. Como uma nação de ovelhas forja governo de lobos, podemos não ser bestas para tirar onda de herói. Todavia, já vacinados, temos o direito de exigir respeito dos cowboys fora da lei.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras