Nem melhor, nem pior: a economia brasileira deverá seguir no mesmo compasso atual ao menos até o último bimestre do ano. O boletim Focus, do Banco Central, divulgado em 12 de janeiro, mostra que, com exceção da taxa de inflação, situada um pouco abaixo da margem superior da meta inflacionaria, os demais indicadores, inclusive o PIB, não são favoráveis.
Mas mostra também que os dados desfavoráveis não evidenciam a iminência de um desajuste na economia maior do que o vivido no último ano, ano e meio. Soa como se o respeitado documento semanal do BC confirmasse o que disse com franqueza, ainda no mês de dezembro, Joaquim Levy, ministro da Fazenda: em 2015 não haverá crescimento nem a queda da inflação; mas ajustes, controle de gastos e racionalização das contas públicas. São propostas sensatas que, se cumpridas, devolverão confiança a consumidores, empresários e investidores, pavimentando o terreno para uma futura retomada do crescimento.
Nesse compasso, os agentes econômicos tateiam a meia-marcha enquanto aguardam novas e efetivas ações das autoridades. Setores e segmentos produtivos reveem suas estratégias e formulam táticas de sobrevivência em uma economia de baixa performance cujos ajustes, ainda que bem intencionados, serão mais pesados para uns do que para outros. O comércio varejista paulista acredita que venderá mais 1,2% em 2015, ante retração de 2% em 2014. Não será um crescimento uniforme, entretanto, pois as regiões de maior concentração demográfica e diversificação continuarão a perder vendas, como ocorreu no ano passado, enquanto o faturamento real continuará crescendo, no interior.
O resultado positivo, ainda que modesto, do comércio varejista neste ano é factível, também, devido a algumas circunstâncias conjunturais verificadas no ano passado. As vendas de automóveis, por exemplo, diminuíram em 15%, enquanto o nível de confiança do consumidor ficou 19% menor, dois porcentuais que dificilmente se repetirão em 2015.
Por outro lado, em 2014, os preços subiram e a demanda e a renda caíram antecipando o ajuste que no decorrer deste ano será feito em muitos setores. Este ajuste compreendeu, inclusive, a diminuição do crédito à disposição do consumidor, o aumento de seu custo e maior seletividade.
Outros ajustes além dos que já foram feitos no setor terciário poderão ser complementados por outras medidas em gestação na equipe econômica. O setor, entretanto, já se preparou e acredita, inclusive, que será possível vencer o ano sem recorrer a uma das estratégias mais doloridas para superar as dificuldades: a dispensa de trabalhadores.
Nos demais setores econômicos a perda de vagas pode ser uma realidade desagradável quando os novos instrumentos de política econômica estiverem em vigor, o que não deve demorar.
A situação atual da economia brasileira é produto da insistência do governo em uma política de estímulo ao consumo que teve papel importante para mitigar os impactos da crise mundial de 2008 e 2009, mas cuja duração foi além do necessário. Daí a demora em reconhecer os problemas conjunturais da economia.
Como consequência, a correção de rumo exigirá remédios mais amargos, tais como a alta dos juros, cortes de gastos essenciais, cruéis aumentos de impostos, impacto negativo sobre o nível de emprego.
Diante do atual cenário, o principal desafio a ser enfrentado pela nova equipe econômica, portanto, é a retomada da confiança de consumidores e empresários – sem esta, nada de investimentos e, portanto, crescimento.
É necessária, entretanto, a adoção urgente de outras medidas que aprofundassem e perenizassem a prometida renovação econômica, tais como a simplificação da tributação, a reforma da previdência, a diminuição (seria melhor a extinção, claro) da burocracia, menor número de ministérios e secretarias. Mas, já no início do jogo, perdemos a primeira oportunidade de gol: foi mantido o mesmo número de ministérios do governo anterior.
O enxugamento do setor público, tão hipertrofiado quanto ineficiente na gestão de recursos, e cujos critérios de contratação e de controle estão muito aquém da eficiência dos que pautam o setor privado, é tão fundamental quanto repensar o papel do Estado na economia, pois contam-se aos montes as ações desastradas da intervenção estatal no ambiente de negócios.
É preciso que a política econômica de 2015 retome os parâmetros corretos da economia para que tudo dê certo. Desde o governo anterior os pressupostos clássicos foram abandonados: a política monetária e fiscal foi abandonada, o câmbio entrou como variável de estímulo à produção e o modelo de consumo adotado revelou-se incapaz de sustentar o crescimento.
O descompasso entre as políticas monetária e fiscal trouxe o descontrole inflacionário. A adoção de uma política fiscal austera é essencial no combate à inflação e, evidentemente, na recuperação da confiança dos mercados. São decisões urgentes e fundamentais para que o país tenha acesso a investimentos, tecnologia e ganhos de produtividade em um ambiente de estabilidade econômica.
Abram Szajman