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O assassino do pé esquerdo (I)

Corrida macabra assusta Celina no Parque da Cidade

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Celina, como de costume, acordou antes do galo cantar. Não que houvesse algum, a não ser aquele de louça sobre a estante da sala. De meias, caminhou com cuidado para não fazer barulho e acabar acordando a Clarinha, a vira-lata de dois anos, que continuava roncando na almofada ao lado.

A mulher preparou uma xícara de café. Nada de açúcar. Nas últimas semanas, Celina vinha travando uma luta contra a balança. Não que estivesse muito acima do peso, mas queria perder dois ou três quilos para o carnaval que se aproximava.

Duas torradas com um pouco de manteiga completaram o dejejum, degustadas em frente à janela do apartamento ali no Sudoeste. Ela observou uma mangueira carregada e, em seguida, foi tomar banho.

Assim que saiu do chuveiro, enrolou-se na toalha. Passou a mão no espelho, que estava embaçado. Abriu a toalha e tentou admirar o próprio corpo refletido. Quarenta e quatro anos. Insatisfeita, torceu os lábios. Foi o bastante para tomar coragem e ir dar uma corrida no Parque da Cidade.

A cachorra ainda estava dormindo quando a mulher amarrou o último cadarço do par de tênis. Celina cutucou a companheira com a ponta dos dedos.

— Levanta, preguiçosa! Ou você quer ficar gorda que nem aquele buldogue do 301?

Pouco tempo depois, Celina, com Clarinha no banco ao lado, dirigiu até o estacionamento do Parque da Cidade. Durante o trajeto, foram ouvindo “O mundo é maior que teu quarto”, sucesso do TNT, antiga banda gaúcha.

Assim que desceu do veículo, a mulher começou a se alongar. Tomou fôlego e iniciou a corrida lentamente, sempre com a cachorra aos seus pés. Estava certa de que aquilo não seria tão difícil. Todavia, menos de dez minutos após, o corpo pareceu sentir a longa ausência de exercícios. Exausta, sentou-se na grama ao lado da pista.

Abriu a garrafa de água e tomou um longo gole. A vira-lata, todavia, parecia mais animada e foi explorar o local. Não tardou, começou a latir insistentemente em frente a uma lixeira.

— Clarinha, sua doida! Volta aqui!

A cachorra não obedeceu, o que obrigou a mulher a se levantar e ir ver o que tanto a afligia. Caminhou dolorida até a lixeira. Celina logo notou que havia um saco plástico preto. Curiosa, abriu-o com cuidado até que um grito de desespero lhe tomou por completo. Era um pé! Um pé humano. Decepado na altura do calcanhar.

O Capítulo II deste folhetim será publicado no domingo, 21.

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