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Corrida pela cura do Alzheimer em tratamentos experimentais

Foto: Zack Wittman/The New York Times

A tarefa que a gigante farmacêutica Eli Lilly se propôs a cumprir parece relativamente simples: encontrar 375 pessoas com mal de Alzheimer ainda no estágio inicial para participarem de um ousado tratamento experimental para retardar ou deter a perda de memória.

Há 44 milhões de pessoas em todo o mundo afetadas pelo Alzheimer – entre elas 5,5 milhões de americanos. Seria de se pensar que não haveria dificuldade em encontrar interessados em participar de tratamentos experimentais como este.

Mas não é assim. E o problema traz imensas implicações para o tratamento de uma doença que aterroriza os mais velhos e traz muito desgaste para as famílias.

A Global Alzheimer’s Platform Foundation, que está ajudando a recrutar participantes para o teste da Lilly, calcula que será necessário informar de 15 mil a 18 mil pessoas da faixa etária correta a respeito do tratamento para então começar o trabalho.

Dessas pessoas, quase 2 mil precisam passar pela triagem inicial, sendo selecionadas para mais testes caso sejam aprovadas.

Apenas 20% delas se enquadrarão nos critérios necessários para a participação no tratamento experimental da Lilly: idade entre 60 e 89 anos, ao menos seis meses de episódios de perda de memória leve e progressiva, e apresentar dois tipos de exames cerebrais mostrando que o mal de Alzheimer está se desenvolvendo.

Mas uma proporção de reprovados de 80% nos tratamentos experimentais contra o Alzheimer é comum, disse John Dwyer, presidente da fundação. Não há maneira eficiente de diagnosticar a doença rapidamente.

O oneroso processo de identificar apenas 375 pacientes mostra que encontrar pacientes dispostos a testar novos tratamentos contra o Alzheimer está se tornando um obstáculo insuperável.

Com exames cerebrais, testes de laboratório e de memória, o custo do diagnóstico em si já impressiona – pode chegar a US$ 100 mil para cada pessoa inscrita num teste clínico, disse Dwyer – antes mesmo do início do tratamento experimental.

Para complicar o problema, o número de experimentos com novos tratamentos aumentou muito nos anos mais recentes. Há mais de 100 estudos envolvendo o mal de Alzheimer, buscando um total de 25 mil participantes, disse Dwyer.

“A ironia é que, do ponto de vista científico, tudo isso é muito promissor”, disse Dwyer. “Quantos remédios promissores acabarão abandonados ou terão seu desenvolvimento consideravelmente atrasado?”

Até o momento, os tratamentos experimentais têm produzido caros fracassos. Os pesquisadores têm se concentrado principalmente na proteína beta amiloide, que começa a se acumular no cérebro dos pacientes anos antes de sua memória começar a falhar. Faz mais de uma década que as empresas tentam usar remédios antiamiloides para retardar ou deter o desenvolvimento da doença, gastando bilhões de dólares em experimentos.

Um novo estudo de remédio antiamiloide desenvolvido pela japonesa Eisai e a americana Biogen traz esperança, mas os resultados não são consistentes e ainda precisam ser confirmados.

A Lilly estuda uma combinação de dois medicamentos. Entre os pacientes está Vicki Staehr, 72 anos, que vive em Orlando, Flórida, com o filho e a nora. “Não consigo me lembrar de nada que tenha acontecido há mais de alguns segundos”, disse ela.

A avó e a bisavó dela tiveram demência, disse. Há cerca de um ano, ela percebeu que a memória começava a falhar. Foi assustador, disse Vicki. Quando o neurologista dela sugeriu que se candidatasse a participante do estudo da Lilly, ela ficou surpresa e intrigada.

“Não tenho certeza se isso pode me ajudar”, disse Vicki. “Mas, talvez, possa ajudar outras pessoas. Quem já acompanhou um caso de demência sabe como é terrível.

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