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‘Corrupção com Bolsonaro bate a do Mensalão’

A Crusoé mostra a corrupção e O Antagonista escancara os fatos para o seu leitor. A fonte é um bolsonarista arrependido. Trata-se do deputado federal Júnior Bozzella, do PSL paulista. Ele disse com todas as letras à revista Crusoé que o governo de Jair Bolsonaro compra apoio na Câmara dos Deputados com dinheiro público.

Aí entra O Antagonista, jogando lenha a fogueira: Aos nossos ouvidos cansados, soa como se de tudo já se soubesse, é o bolsolão etc., mas não é bem assim. O ex-aliado do Planalto relatou ao repórter Patrik Camporez como se dá a compra: a liderança do partido liga para o chefe de gabinete do deputado, pedindo indicações de municípios para os quais o parlamentar deseja mandar recursos do orçamento paralelo. O deputado faz a indicação e o dinheiro é enviado ao escolhido para receber a bufunfa.

Pode ocorrer, segundo Júnior Bozzella, uma triagem por parte da liderança com base na relação da agremiação com os prefeitos. De acordo com o deputado, dentro do PSL os mais contemplados com os 92 milhões de reais destinados ao partido foram os parlamentares governistas — o que não é o caso dele, agora desafeto do Planalto, embora também tenha feito indicações para o recebimento de recursos.

Júnior Bozzella relata que o contato da liderança do PSL — leia-se Felipe Francischini — com o seu gabinete ocorreu por volta de 20 de dezembro do ano passado, e que onze municípios pequenos foram indicados. “Foi bem em cima da hora. A gente não teve tempo de fazer o trabalho, o rastreamento. Coube à liderança do PSL fazer essa distribuição, beneficiando mais os deputados bolsonaristas”, afirma o deputado.

O deputado diz também que o governo de Jair Bolsonaro comprou a eleição para a presidência da Câmara do deputado Arthur Lira, do Progressistas: “O Palácio do Planalto entrou de cabeça nessa eleição e usou o dinheiro público para cooptar os deputados e eleger o presidente da Câmara. Mas a cada pauta, a cada discussão, a cada revisão de orçamento, em todas essas discussões, são sempre levadas em conta as emendas extras que são apresentadas a deputados e senadores”. A compra do apoio a Arthur Lira, segundo Bozzella, veio como complemento ao pagamento pelo voto em favor do auxílio emergencial. “A última (liberação) que teve foi por causa do auxílio emergencial. Aí teve mais um quantitativo para a eleição do Arthur”, diz o deputado.

Sem fazer rodeios, o deputado afirma: “Esse é o governo mais corrupto da história. Daqui a dez anos, as pessoas vão olhar para trás e vão ver que o mensalão foi barato perto disso. É muito mais escandaloso, é um estupro moral com a sociedade, porque quem acreditou nesse governo nunca imaginou que estaria construindo o governo mais corrupto da história, seja em áreas como o meio ambiente ou no toma lá da cá dentro do Parlamento. Por isso que eu digo que o mensalão, se comparado a isso, foi ‘barato’ para o povo brasileiro”.

Quando Roberto Jefferson denunciou vigorosamente o mensalão do PT na Folha de S. Paulo, em 2005, movido que estava pela vingança contra os ex-aliados que haviam resolvido fritá-lo, o escândalo foi grande o suficiente para que as resistências internas na Câmara fossem vencidas e se instaurasse uma CPI — cujo relatório final resultou no processo levado a cabo pelo STF. Em 2004, antes de Roberto Jefferson colocar a boca no trombone, o Jornal do Brasil publicou uma reportagem sobre o esquema de compra de parlamentares pelo PT que caiu no vazio.

Se aprendêssemos com a história, conclui O Antagonista, a entrevista de Júnior Bozzella deveria causar desde já muito barulho e ensejar uma investigação rigorosa dos fatos. As suas afirmações soam como se de tudo já se soubesse, mas não é bem assim. A sua descrição sobre o processo de compra é inédita e precisaria ser esmiuçada, para que se verificasse mesmo se o governo de Jair Bolsonaro é “o mais corrupto da história”.

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