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Corrupção contamina e mancha Congresso Nacional

Com todo respeito à fauna brasileira, qual a diferença entre os nobres animais que subordinam, achacam, manietam, roubam, estupram e matam seus semelhantes nas comunidades e nas ruas e avenidas das grandes, médias e pequenas cidades do Brasil e o senso quase animalesco com o qual as excelências do Congresso Nacional tratam o país e o povo? Embora sejam sanguinários, matadores por natureza e filhos e imprestáveis como seres humanos, os representantes do crime organizado e das milícias pelo menos temem as leis. Aves de rapina e desventurados, os de terno e gravata não a temem e, quando temem, fazem de tudo para mudá-las antes de serem alcançados por elas.

Às vezes, são pegos, mas literalmente defecam sobre o que eles mesmo produziram. É a pocilga institucionalizada e regiamente paga com dinheiro público, isto é, do contribuinte que eles querem ver morto. Coisas de quadrilheiros. Muito pior do que os mentores, articuladores e integrantes do golpe de 1964 e ainda mais rasteiro do que os agentes e financiadores do vandalismo de 8 de janeiro de 2023, o atual Congresso Nacional é a vergonha do Brasil. Irrecuperavelmente contaminados pela corrupção e, agora, pela briga de foice com os demais poderes, notadamente o Judiciário, os deputados e senadores eleitos em 2022 (alguns senadores em 2018) são mais peçonhentos do que as cobras de qualquer bioma brasileiro.

É, de longe, o mais insignificante colegiado de todos os tempos. Exacerbando o cinismo, a cara de pau e a devassidão, os camaradas definitivamente perderam a timidez ao optarem pelo notório escárnio. Não respeitam sequer as crianças e os idosos na sala. Perdoar crimes que eles mesmos cometeram é atirar na moralidade pública. Usando o eufemismo da flexibilização das leis, os senhores do apocalipse político aprovaram esta semana um projeto que reduz o prazo de inelegibilidade previsto na Ficha Limpa, lei apresentada pela sociedade, elogiada por todo o planeta e copiada por alguns países. Além do desmonte da legislação de combate à corrupção, é um ataque na tão sonhada seriedade eleitoral de um país sempre acostumado ao achincalhe da legislação.

O sonho impossível é beneficiar Jair Messias. Morram antes, pois é uma possibilidade impossível. É rir para não chorar. Como nada no Parlamento é de graça e normalmente exige hereditariedade, sabem de quem é a autoria dessa proposta? Quem? Quem? A deputada Dani Cunha (União-RJ), filha do ex-deputado Eduardo Cunha, um dos prováveis beneficiários. Ele está inelegível até 2027, mas, caso a lei seja aprovada, ele recupera a capacidade de participar de eleições a partir deste ano. Está tudo em casa e com apoio fraterno e incondicional do senador Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da CCJ do Senado.

Nas comissões, nos plenários e nas latrinas das duas supostas casas de lei, o que se vê e se respira é retrocesso, é desconstrução. A ideia é clara: acabar com que é bom e com o que, eventualmente, pode afetar social, criminal e financeiramente suas excelências de pedra. Além de minimizar o tempo da inelegibilidade, também nesta semana os senadores referendaram a PEC já aprovada pelos deputados anistiando os partidos políticos de multas recebidas por descumprimento de normas eleitorais. A medida é um desastre para a credibilidade das legendas. No entanto, os parlamentares e seus líderes parecem ter assumido de vez a pecha de mais sujos do que pau de galinheiro. Interessante é que muitos votam em nome de Jesus. Esconjuramos ou oramos?

Há outras duas bestialidades engavetadas temporariamente pelo presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), ambas com reação infantil e mercantilista dos parlamentares. Trata-se das PECs que retiram poderes do Supremo Tribunal Federal. Uma delas visa a limitar decisões monocráticas como a do ministro Flávio Dino para exigir transparência no repasse das emendas PIX. É o fim do mundo. Em síntese, servir à nação e ao povo é algo que eles desconhecem e abominam. O que deputados e senadores fizeram esta semana, estão fazendo e certamente farão é um desaforo aos milhões de brasileiros que foram às ruas clamar por saúde, educação, segurança, mobilidade e, principalmente, respeito. Como conclusão do desabafo, sugiro colocar todos em dois ou três voos da Voepass. Certamente poucos sentirão falta deles.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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