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Corrupção no MEC vira moeda de troca para futuro comando da PF

Com a iminente eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final deste outubro, como mostram as pesquisas mais recentes, quem está no comando da Polícia Federal desde o segundo mandato do petista, trabalha para manter a bolha do controle da corporação. Porque, também entre os federais, a única mudança permitida é aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri, para quem “tudo deve mudar para que tudo fique como está”. A célebre frase inserida em O Leopardo (“Il Gattopardo”), romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, traz uma reflexão quanto a coexistência histórica da mudança e da conservação social, ou, para ser mais claro, a “persistência do passado”.

As constantes trocas no comando da PF patrocinadas pelo presidente Jair Bolsonaro, não foram páreas para afastar os mesmos dez por cento dos delegados que se revezam entre os cargos de diretores, superintendentes e adidos no exterior, dentre outras ocupações no alto escalão daquela corporação. Vencer os burocratas que querem se manter no poder não é missão fácil para os políticos. Eles possuem informações de todas e todos. E para garantir que os problemas sejam devidamente administrados na PF, demonstram a importância para os mandatários de mantê-los nos cargos.

Enfim, os políticos mudam pelo voto, mas os burocratas querem permanecer. A última vez que a PF fora realmente renovada, inaugurando uma nova geração no poder, foi com a saída do delegado Paulo Lacerda. De lá para cá, vemos no Diário Oficial mudanças dos dirigentes de um cargo para outro, numa ciranda que impede que a grande parcela das demais autoridades policiais possam ascender a chefias sem a permissão do grupo minoritário dominante.

Não foi em vão que criaram regras para a assunção de caras novas em cargos em comissão. A título de ilustração: um delegado não pode assumir como coordenador sem antes ter passado pelo menos um ano como chefe de serviço ou delegacia regional. Com isso, garante-se que apenas aqueles que estão no topo possam escolher os que galgarão os cargos mais relevantes, evitando-se uma mudança brusca no controle da instituição e garantindo uma blindagem à cúpula da instituição.

Contudo, algo novo e inesperado está acontecendo. O delegado federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre desvios no Ministério da Educação, imputou aos chefes da PF os crimes de formação de quadrilha, cárcere privado, prevaricação, desobediência e obstrução de investigação de organização criminosa em razão de terem interferido na investigação que tem Milton Ribeiro como alvo.

Isso muda tudo, pois “nunca antes na história” um presidente de inquérito policial se insurge contra os gestores da PF de forma fundamentada.

Calandrini se encontra no interior de Minas Gerais investigando in loco as prefeituras beneficiadas com os desvios no MEC. Para afastá-lo do caso e colocá-lo em descrédito para não perderem sua necessária e costumeira blindagem, a cúpula encomendou uma sindicância que imputa excessos a Calandrini e força a abertura de um procedimento administrativo disciplinar.

Os famosos PAD, como é sabido no mio, não servem apenas para responsabilização disciplinar, mas também para afastar o policial dos cargos e funções de confiança, cursos e outras benesses funcionais, e, principalmente, para que o delegado não possa se ausentar de sua lotação. Esse o golpe que poderá ser certeiro, já que não podem afastar o delegado da investigação sem uma justificativa.

Com o afastamento de Calandrini e a manutenção da cúpula, permanecem livres os atuais dirigentes para se manterem no cargo agora que seu chefe da Divisão de Relações Internacionais acumulará a função de coordenador da equipe da segurança do presidente eleito. O que mais se comenta entre delgados é que caminha-se para que permaneça tudo como dantes no quartel d’Abrantes. Se não houver pulso forte, quem sobreviver a essas artimanhas, verá.

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