A notícia reportada neste domingo, 11, em Notibras, sobre o fato de que no Estados Unidos, escândalos sexuais atraem mais a atenção dos leitores do que corrupção, me fez transportar à nossa terra tupiniquim já quase ao final do século passado.
Provavelmente você não se recorde do longínquo final de dezembro de 1992, quando dois fatos marcaram os noticiários brasileiros: o impeachment do então presidente Fernando Affonso Collor de Mello e o brutal assassinato da atriz Daniella Perez.
Nessa época, talvez pela minha total ignorância em relação às novelas, nunca havia ouvido falar da artista, muito menos que ela era filha de uma escritora de teledramaturgia. Seja como for, não foi esse fato que me causou certo espanto, mas sim como nos comportamos diante de certas situações.
Calma, que vou explicar. Longe de mim querer negar a importância jornalística de um crime tão cruel cometido por um ator (que eu também não fazia a menor ideia de quem era) contra sua companheira de cena. Todavia, não há como negar que o impeachment do Collor era muito mais importante para o país, já que se tratava de algo que iria mexer com todos nós. Mas só se falava no então homicídio, tanto é que eu, um completo ser alheio ao mundo das tramas novelescas, acabei por me informar de praticamente tudo por osmose.
Avancemos para dezembro de 1998 e mudemos de país, agora os Estados Unidos da América. Pois é, nessa época, o pessoal de lá queria porque queria arrancar o traseiro do Bill Clinton da Casa Branca. Nunca na história da terra do Tio Sam um sexo oral havia abalado tanto a estrutura de uma nação. Sim, isso mesmo. Por causa dessa esdrúxula situação, todos estavam com os olhos voltados para os lábios da então estagiária Monica Lewinsky e o órgão sexual presidencial.
Mas, onde eu quero chegar, talvez você esteja questionando? Pois bem, o ser humano parece se preocupar com coisas que, na verdade, não o afetam diretamente. A barbárie ocorrida com a Daniella Perez, por mais desumana que fosse, jamais deveria ter ofuscado o impeachment do Collor. Por sua vez, um ato sexual tão comum como, por exemplo, chupar picolé, também não deveria ganhar proporções gigantescas, ainda que tenha sido praticado por alguém aos pés do homem mais poderoso do planeta.
Somos humanos. Somos curiosos. Preferimos coisas escabrosas, cruéis e não desejamos nos preocupar com algo talvez chato. Queremos crer em mamadeira de piroca, kit gay, banheiro unissex nas escolas, já que encarar os reais problemas do país (miséria, fome, racismo, machismo, abismo socioeconômico) deva ser mesmo muito enfadonho. Afinal, como dizem, erroneamente, os patriotas de meia-tigela, nossa bandeira jamais será vermelha.
Talvez o nosso maior problema esteja aí. Até porque, Brasil significa, literalmente, vermelho como brasa.