O povo nordestino já não tem mais confiança em nossos políticos. Isso vem sendo verificado nas últimas 72 horas, com o início da campanha eleitoral para disputar cargos de prefeitos e vereadores. Percorrendo o vasto sertão, observa-se em uma pequena cidade que a praça central, outrora ponto de encontro para conversas amenas e jogos de tabuleiro entre amigos, agora se transformou em palco de discussão acalorada. A proximidade das eleições municipais, que antes gerou entusiasmo e um senso de dever cívico, provoca desconfiança e ceticismo entre os eleitores.
Antigamente, as campanhas para prefeito e vereador eram motivadas por debates sobre melhorias na infraestrutura da cidade, educação, saúde e qualidade de vida dos moradores. Hoje, porém, os discursos parecem cada vez mais distantes das necessidades reais da população. As promessas, que eram vistas como compromissos, passaram a ser encaradas como palavras vazias, ditas apenas para angariar votos.
A corrupção, esse câncer que corrói a democracia, instalou-se como uma presença incômoda e constante na vida política do país. Não são mais casos isolados, mas um sistema que, de tão enraizado, parece ser parte integrante do processo eleitoral. O eleitor, já cansado e desiludido, assiste a essa realidade com uma mistura de resignação e revolta. Nota-se que a cada novo escândalo, a esperança se esvai um pouco mais.
Nas rodas de conversa, o tom é de desânimo. “Pra que votar se todos são iguais?”, diz Dona Maria, uma senhora de setenta anos, que já viu muitas promessas não cumpridas. “Parece que quem entra na política já entra pensando em como tirar vantagem”, comenta seu José, que, com seus oitenta e dois anos, sempre participou das eleições, mas agora, mesmo desobrigado, pela idade, ee ir às urnas, pensa em anular o voto
A sensação de impotência é crescente. Os candidatos, antes figuras de respeito e confiança, agora são vistos com desconfiança, como se estivessem ali não para servir ao povo, mas para se servir do poder. O resultado é um ciclo vicioso: a corrupção afasta os participantes, que, por sua vez, deixam de participar do processo democrático, facilitando ainda mais o caminho para aqueles que desejam tirar proveitos do sistema.
E assim, uma cidade que já foi símbolo de esperança e mudança, hoje se vê mergulhada em um mar de apatia. O que antes era um dever cívico, agora é uma obrigação desmotivada. A confiança, elemento essencial em qualquer democracia, parece cada vez distante.
Mas nem tudo está perdido. Ainda existem aqueles que acreditam na força do voto, que apostam que a mudança é possível, mesmo que lenta e árdua. Talvez seja esse o fio de esperança que ainda mantém de pé o processo eleitoral. Porque, no fim, a democracia não é feita apenas de votos, mas de cidadãos que, apesar de tudo, ainda acreditam em um futuro melhor.
Essa esperança, apostam candidatos que prometem mudanças, não deve se perder. Eles avaliam que a confiança possa um dia ser restaurada. E que a política, em sua essência, volte a ser o que deveria: um serviço ao bem comum, e não um meio para a satisfação pessoal. Porque, afinal, a cidade é feita por e para seus habitantes, e não para aqueles que, momentaneamente, ocupam suas cargas de olho no próprio umbigo.