Uma bomba de alto teor explosivo ameaça cair sobre as casas dos nordestinos de baixa renda. Vem a ser o anunciado corte, no orçamento do próximo ano, na verba destinada ao programa Auxílio Gás: de 3 bilhões 500 milhões de reais para míseros 600 milhões. A redução será de exatos 84%. Mesmo assim, o governo pretende ampliar as famílias atendidas em todo o país – de 5 milhões 500 mil, para 6 milhões.
Pela proposta da equipe econômica com cadeiras na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, as distribuidoras de gás de cozinha receberiam múltiplos incentivos para baratear o custo do produto. O subsídio seria coberto pela Caixa Econômica Federal. Mas as classes C, D e E, principais beneficiárias do dinheiro para comprar um botijão a cada dois meses, temem que a medida se transforme em retrocesso.
O projeto que reformula o Auxílio Gás precisa, porém, ser aprovado pelo Congresso. É justamente aí que a população de baixa renda, que mal consegue sobreviver com o Bolsa Família, aposta na derrubada da ideia. Pela proposta do governo, o Tesouro Nacional deixará de receber receitas da exploração do petróleo na camada pré-sal que cabem à União. O dinheiro seria transferido diretamente à Caixa, que se tornaria a operadora do Auxílio Gás. Especialistas criticam a regra porque os subsídios do programa estariam fora do Orçamento Federal e do limite de gastos imposto pelo novo arcabouço fiscal, o que abre espaço para questionamentos do Tribunal de Contas da União.
Notibras ouviu lideres comunitários, na troca de mensagens pelo WhatsApp, sobre o assunto. O pensamento é uníssono: as famílias praticamente abaixo da linha da pobreza serão as maiores prejudicadas. Tanto, que o benefício, criado para ajudar quem vive em situação de vulnerabilidade para arcar com o custo do gás de cozinha, tornou-se um intervalo em meio a tempos difíceis. E a falta desse dinheiro na conta antecipa um sentimento de incerteza e medo para quem já vive à margem da sociedade.
No sertão do Nordeste, onde a vida é marcada por desafios como a seca prolongada e a falta de oportunidades de trabalho, o Auxílio Gás representa mais do que um simples subsídio: ele é sinônimo de dignidade. Maria de Lourdes, moradora de um pequeno vilarejo no interior do Ceará, conta que o auxílio é essencial para que possa cozinhar para sua família. “Agora não sei como vou fazer. Com o preço do gás tão alto, vou ter que voltar a usar lenha, e isso é mais difícil pra mim, que já tenho a saúde fraca”.
A decisão de cortar o benefício afetará principalmente as famílias mais vulneráveis, aquelas que dependem exclusivamente de programas sociais para sobreviver. Os critérios para a concessão do Auxílio Gás tornaram-se mais rígidos, excluindo muitos que, apesar de sua extrema necessidade, não se enquadram mais nas novas regras. A insegurança alimentar, já presente no cotidiano de muitos nordestinos, tende a se agravar sem esse apoio financeiro.
O impacto desses cortes vai além das dificuldades financeiras. No âmbito social, a sensação de abandono pelo poder público é evidente. A retirada de um benefício tão importante é vista por muitos como uma quebra de promessa, um descaso com uma população que mais necessita de apoio. Para José Antônio, um agricultor da Paraíba, o sentimento é de revolta: “Uma gente é esquecida aqui no Nordeste. Quando a ajuda chega, é pouca e, quando a gente começa a contar com ela, tiram de nós”, desabafa.
O governo, por sua vez, alega que os cortes são necessários para o equilíbrio das contas públicas e para o redirecionamento de recursos para outras áreas prioritárias. No entanto, para quem vive na ponta, os números e as justificativas não são suficientes para suprir a falta do auxílio. A economia, quando feita à custa dos mais pobres, parece mais um cálculo frio que desconsidera a realidade daqueles que lutam diariamente pela sobrevivência.
Diante desse cenário, organizações sociais e lideranças comunitárias começam a se mobilizar para tentar reverter a situação. Campanhas de arrecadação de alimentos e gás de cozinha estão sendo anunciadas previamente, mas todos sabem que isso não é uma solução sustentável. O que se espera, na verdade, é que o governo reveja sua decisão e compreenda que, para muitos nordestinos, o Auxílio Gás não é um luxo, mas uma necessidade básica.
A apreensão permanece. E enquanto não houver uma solução definitiva, milhares de nordestinos continuarão a viver na incerteza de como irão cozinhar o próximo alimento. Para eles, o corte no Auxílio Gás não representa apenas uma questão econômica, mas uma ameaça direta à própria sobrevivência. Até porque, argumentam, quem vai garantir que as distribuidoras fornecerão gás mais barato, mesmo que subsidiado?