Era um tipo comum, honesto, bem-intencionado, repleto de virtudes, fadado à melancolia. Cosme, sem um Damião para chamar de mano, era tão rígido em atitudes, que nas curvas saía pela tangente. Se dava a cara contra o muro ou despencava desfiladeiro abaixo, imaginava ser sua sina.
Perene que era o homem, só saiu da pequena Timbaúba dos Batistas por conta de doença, que se abateu sobre a família. Restou-se só. Sem perspectivas melhores, ajuntou o que dava na velha carroça e tomou o rumo do mar. Ao longo do caminho, foi trocando o que tinha por comida e. quando já não havia mais coisas para trocar, fez catira com a carroça. Ficou no lombo da Mimosa, mula com nome de vaca.
Decidido a não morrer por coisa boba, apeou quando chegou o tempo de apear, montou nos momentos que Mimosa, resistente que nem mula, conseguia alguma provisão para manter o passo firme. O sol castigava aqueles dois, que descansavam quando dava, geralmente durante as horas mais ardentes do dia, debaixo de qualquer mandacaru que lhes fizesse sombra.
Num vilarejo, teve gente que quis comprar a Mimosa. Paga pouca, mas que já dava para sobreviver por uma semana. Diante da oferta salvadora, Cosme coçou o queixo, abanou o rosto com o chapéu de couro.
— Vendo não.
— Aluga?
— Pra quê?
— Tô precisando roçar um pedaço de terra.
— Alugo não.
— Por quê?
— Combinei com ela que vamos ver o mar.
Cosme e Mimosa se despediram e prosseguiram viagem. O caminho era longo e penoso, quase impossível. Todavia, aqueles dois estavam possuídos por aquela teimosia própria dessa gente nordestina. Sem tempo para descansar, sem comida para comer, sem água para beber, viajaram até que, esquálidos, sentiram o aroma de algo que não conheciam.
A maresia entrou forte por aquelas narinas. Cobriram mais alguns metros de areia até que sentiram as ondas. Exaustos, deitaram, enquanto a água salgada refrescava aqueles corpos, que, não tardou, repousaram inertes. Almas lavadas.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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