Os casos de covid estão avançando no interior do Brasil. Sem leitos de terapia intensiva ou equipamentos essenciais para tratar pacientes da doença, pequenas cidades se tornaram o epicentro do novo coronavírus e podem provocar um “tsunami” de novos casos nas capitais, à medida que pessoas em estado grave dependem dos grandes centros para receber atendimento, alertaram especialistas.
Depois de chegar ao país pelos aeroportos das capitais e se espalhar pelas grandes cidades e suas regiões metropolitanas, o novo coronavírus passou a circular nas últimas semanas com mais força nas cidades menores, onde há profunda carência de atendimento hospitalar, aumentando os riscos de um número cada vez mais alto de óbitos em decorrência do vírus que matou quase 55 mil brasileiros em quatro meses.
“No caso brasileiro, o refluxo, o bumerangue de casos que vai voltar para as capitais, é um tsunami”, disse à Reuters o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, que coordena o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste.
“Existe um efeito bumerangue, o vírus vai para o interior, semeia pelas rodovias, você começa a ter transmissão comunitária, as pessoas ficam doentes, ficam graves, e voltam para a capital para ser atendidas”, acrescentou o professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, no EUA, que está temporariamente morando em São Paulo durante a pandemia.
Somente 9,6% dos municípios do país (536 de um total de 5.570) têm leitos de UTI, e o número cai para apenas 421 cidades quando se trata de unidades de terapia intensiva simultaneamente com equipamentos importantes para o cuidado hospitalar de alta complexidade, de acordo com estudo da Fundação Oswaldo Cruz com dados de fevereiro.