Adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro, que formam ampla maioria no Congresso Nacional, estão articulando a criação de uma CPI Mista (com deputados e senadores) para investigar não apenas a suposta rachadinha no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro na Assembléia Legislativa do Rio, mas também a movimentação financeira de Fabrício Queiroz, ex-assessor do agora senador e amigo próximo de todo o clã bolsonarista.
A opinião geral é a de que Queiroz tem um modus operandi semelhante ao de Paulo César Farias, o PC de Collor, que levou ao impeachment do ex-presidente. Se não há um Elba em comum, há apartamentos e lojas de chocolates. Na eventualidade de a CPI ser oficializada, há dois nomes encabeçando a fila de depoentes: o próprio Fabrício Queiroz e a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Um dos maiores incentivadores da Comissão Parlamentar de Inquérito, Marcelo Calero (Cidadania) é o primeiro a associar as ações de Queiroz às de PC Farias. Na questão dos cheques depositados na conta de Michelle, por exemplo, o parlamentar carioca diz ser “urgente” a aprovação da CPI. “Fica cada vez mais claro que podemos estar diante de um novo PC Farias”, afirma, ao justificar a necessidade de apurar as relações de Queiroz com a família Bolsonaro.
A ideia de uma CPI ganhou força a partir das revelações feitas pela revista Crusoé, destrinchando em miúdos o montante de dinheiro que entrou e saiu das contas de Fabrício Queiroz. São valores que vão muito além dos 20 mil ou 40 mil reais que Bolsonaro disse ter recebido de volta por ter emprestado um dinheiro a Queiroz. “É (tudo isso) extremamente grave. Deixa cada vez mais complexo – e lógico – o enredo que entrelaça Queiroz e a família Bolsonaro”, afirma Calero.
Além dos 21 depósitos em cheque recebidos de Fabrício Queiroz, que somam 72 mil reais, Michelle Bolsonaro também recebeu dinheiro da mulher do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. A quebra de sigilos de Márcia Aguiar mostra que ela depositou 11 mil reais na conta da primeira-dama. É um dado que Bolsonaro nunca revelou, nem quando disse que Queiroz havia depositado somente 40 mil reais para Michelle.
Ex-aliados do presidente fazem coro à necessidade de uma CPI para investigar o que se considera uma administração contábil ilegal de dinheiro sujo. É o caso de Joice Hasselmann (PSL). Segundo a deputada paulista, ex-líder do governo, Bolsonaro mentiu sobre os depósitos de Fabrício Queiroz para Michelle. Para Joice, a relação do presidente e sua família com Queiroz “é caso de polícia”. Ela sustenta que Queiroz não fez tudo sozinho. “Os comparsas e beneficiários do crime também precisam pagar. A lei é para todos e desvio de dinheiro público é motivo para prisão de todos os envolvidos”, enfatiza.
Ainda de acordo com Joice Hasselmann, “fica evidente que tem muito mais caroço dentro desse angu do Queiroz e que a sujeira é ‘caso de família’. O fato é que o presidente Jair Bolsonaro mentiu sobre os depósitos, tentou encobrir as movimentações financeiras e mentiu lá atrás sobre um suposto empréstimo que teria feito ao Queiroz”, pontuou.
Quem também partiu para o ataque contra o clã Bolsonaro foi o senador Major Olímpio, do PSL de São Paulo. Ele vê Fabrício Queiroz como a figura de ‘diretor financeiro de uma holding familiar’, numa referência a cheques, depósitos e outras transações financeiras. Rompido com o Palácio do Planalto desde que começaram a surgir suspeitas envolvendo Queiroz e a família Bolsonaro, o senador considera que Queiroz, além de amigo, “era um sujeito muito bondoso, porque pagava contas da família, fazia depósitos, eventuais aplicações. Enfim, um verdadeiro diretor financeiro de uma holding familiar”.