CPI dos deputados distritais pode ser a cura para a crise da Saúde em Brasília
Kleber Ferriche
Tudo pode ser pior. Depois de exumar Hipócrates e Galeno, propondo a reutilização da marreta e talhadeira para atendimento médico, analogia feita por desafetos, o atual secretário de Saúde do Distrito Federal, Fábio Gondim, importado do governo de Roseana Sarney, quer implantar o seu mesmo sistema de privatização do atendimento à saúde por meio de Organizações Sociais no território candango, como fez no Maranhão.
O Maranhão tem um dos piores IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, do Brasil. O engenheiro Gondim entende que remédio é vitamina e tanto faz prescrever Dobutamina ou Dopamina que o resultado será o mesmo. Talvez a morte, que tem sido inevitável no sistema do Distrito Federal.
Em nota publicada na imprensa local, o presidente do Sindmédico-DF, Gutemberg Boicote Fialho, como ficou conhecido após gravação de declaração pública em que prometeu travar o atendimento, a entidade questiona Rollemberg sobre os fundamentos em adotar esse método de terceirização após seu fracasso em diversos Estados, entre eles, São Paulo, Rio, Bahia, Paraíba, Paraná, Tocantins e Goiás. Um ninho de corrupção.
O engenheiro Gondim, que deveria ingerir Dobutamina ou Dopamina – ou as duas – para conhecer seus efeitos, é réu no Maranhão no processo nº 080068678.2015.8.10.0001 por improbidade administrativa, segundo a nota do Sindmédico-DF. Muitos prefeitos de capitais brasileiras não gozam do orçamento bilionário que a Secretaria de Saúde do DF tem a disposição. Ainda assim, o setor é matéria quase diária nos noticiários nacionais da TV Globo.
O doutor Gutemberg Boicote e seus pares afirmam que essa metodologia de empurrar o problema para a iniciativa privada é falta de competência. Ou mais que isso. E deve ser mesmo. Outros governantes, inclusive Agnelo Queiroz, que havia prometido solução em 100 dias, mantiveram o precário sistema em funcionamento. Precário, mas não sem atendimento que é o que ocorre hoje.
O deputado distrital Rodrigo Delmasso encaminhou requerimento a Celina Leão, presidente da Câmara Legislativa, solicitando a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Saúde, que foi deferida prontamente e que já tem assinaturas suficientes para sua implantação, ou seja, mais de um terço, inclusive a dela.
A CPI pretende examinar as vísceras da Saúde no Distrito Federal desde o governo anterior, quando era secretário o médico Rafael Barbosa, que cumpriu os quatro anos no mandato do também médico Agnelo Queiroz, governador.
Os opositores desdenham a iniciativa e acreditam que é mais uma moeda de negociação. Observadores afirmam que a leoa veio para marcar território e que a coisa é séria, por isso teve o apoio de Delmasso na campanha de sua recondução a cadeira máxima do Poder Legislativo do Distrito Federal.
A fiscalização da CPI cabe aos cidadãos que estão deixando o mundo dos vivos nos corredores das unidades hospitalares. A qualquer momento haverá uma curva negativa de eleitores, mais óbitos que partos, e qualquer político sabe fazer contas.
Segundo a força corporativa que não engole um engenheiro errando o que ele entende como vitaminas, dizem, muito menos sugestões de soluções fracassadas para o setor, a saída de Fábio Gondim é um ato obrigatório e moral que Rodrigo Rollemberg precisa assumir.
Só para deixar claro, uma nota interna da Secretaria de Saúde do Distrito Federal recomendou que os médicos prescrevessem Dopamina no lugar de Dobutamina. O secretário Gondim foi denunciado ao Ministério Público por recomendar um procedimento que põe em risco a vida dos pacientes.
Foi só isso, deve ser pouco. O alerta sobre a entrega do sistema de saúde da capital da República a organizações como a Real Sociedade Espanhola de Benemerência para o Hospital de Santa Maria e outros como a Fundação Zerbini e o desaparecido Instituto Candango, transformam os arrepios da Zika em um sintoma infantil.
As dores de cabeça e o mal-estar do governador Rollemberg podem levar a graves consequências e a uma infecção generalizada. O remédio pode ser abandonar a receita que está sobre a sua mesa. Melhor aviar outra e salvar mais vidas. Diante desse quadro, e na ausência de antídoto melhor, a CPI da Saúde proposta por Rodrigo Delmasso e abraçada por Celina Leão, pode ser o remédio para todos os males que Fábio Gondim não tem condições de curar.
