Juliana Carreiro
Se existe um setor que parece estar bem distante de uma crise econômica é o dos produtos alimentícios isentos de glúten. São pães, bolos, diferentes tipos de macarrão, biscoitos, cookies, massas prontas de pizza e torta, esfihas e coxinhas congeladas, entre muitos outros. No último final de semana uma feira reuniu em São Paulo cerca de setenta expositores com novidades deste mercado e também com suplementos nutricionais, produtos orgânicos, veganos e isentos de leite de vaca. O Gluten Free Brasil está na sua oitava edição e, de acordo com a organização, cresceu 500% nos últimos 6 anos. É mais uma prova da força deste mercado. Segundo dados da consultoria internacional Euromonitor, ele deve prosperar 32% até 2020.
Foram dois dias de palestras e muito conteúdo científico para os médicos e nutricionistas presentes. De acordo com o diretor do evento, Gustavo Negrini “A iniciativa surgiu da necessidade em levar informação qualificada aos profissionais da saúde, celíacos e interessados no tema, principalmente pelo grande consumo de glúten no Brasil e as consequências que isso pode acarretar em pessoas com doença celíaca. Essa necessidade se expandiu e com o tempo passamos a apresentar as tendências do mercado e da gastronomia, além do networking entre expositores, profissionais da área, lojistas e consumidores”.
Os produtos ‘gluten free’ também nasceram para atender ao público dos celíacos, pessoas que têm alergia a esta proteína presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada. Atualmente, 55% dos consumidores celíacos gastam 30% ou mais do orçamento mensal no supermercado com produtos sem glúten. E este mercado vem ganhando novos adeptos a cada dia, pessoas que não têm a doença, mas sentem a influência negativa do glúten na sua saúde ou bem-estar, que é o meu caso. “Os produtos à base de trigo têm alto teor de glúten, o que pode potencializar o aparecimento de doenças inflamatórias e autoimunes”, explica o diretor do evento. Se você se interessa por este tema, é só procurar pelos primeiros posts deste blog, já escrevi detalhadamente sobre como e porque o glúten nos prejudica.
Em 2015 foi lançada a marca ‘Belive’ especializada em produtos sem glúten, como muffins, brownies, cookies e biscoitos finos, alguns também são isentos de leite de vaca e de açúcar. Dois anos atrás, eram 9 produtos, hoje já são 20. No primeiro semestre de 2017, a marca cresceu 83%, em relação ao primeiro semestre de 2016. Segundo o diretor de marketing da NHD Foods, Samuel Toledo, “Nós atribuímos esse crescimento, entre outros fatores, ao lançamento do brownie, que não tem leite, glúten nem açúcar, há pouquíssimas opções desse tipo no mercado. As pessoas querem comer um doce sem culpa e têm tomado mais cuidado com a saúde, reduzindo o consumo de carboidrato, de açúcar e de sódio. A empresa ainda tem muito o que crescer, há muitas opções de produtos para ofertarmos, para as pessoas terem cada vez mais alternativas para os lanches da manhã e da tarde”.
Outra marca que está nadando de braçadas no mercado de alimentos é a Grano Brasilis, com uma linha inteira de produtos em glúten e sem leite de vaca que vão desde pães e bolinhos prontos até massas pré-preparadas de torta, pizza, panqueca e bolo, entre muitas outras opções. Quando foi lançada em 2013, a empresa tinha 2 produtos, hoje já são 22. As vendas cresceram 100% a cada 6 meses até 2016. Com uma previsão de crescimento de 50% nos próximos 6 meses. Conversei com o sócio-proprietário, Murilo Mozena, “Começamos com a ideia de fornecer opções para o público celíaco e com o tempo vimos que esse mercado é bem maior, a população está se preocupando mais com a saúde, as pessoas estão mais atentas à tabela nutricional dos produtos, as nutricionistas tem feito um trabalho importante de conscientização sobre a importância de cuidar da alimentação para viver mais e melhor. Temos uma grande linha de produtos pré-prontos porque os brasileiros estão se afastando da cozinha e as nossas alternativas são práticas, mas levam mais fibras, mais nutrientes e menos aditivos químicos, sódio e açúcar do que as mais convencionais”.
Na Europa, a preocupação com os malefícios do glúten parece ser bem mais antiga. 35 anos atrás foi lançada na Itália a Schär, uma indústria italiana de produtos sem glúten. Há 5 anos, a marca abriu uma filial no Brasil. De acordo com a diretora de nutrição, Jacqueline Pant,”Desde que entramos no País, o mercado nacional de produtos sem glúten mudou drasticamente com a entrada de muitos competidores nacionais e internacionais, mesmo assim, a marca teve uma boa açeitação. A previsão é que em 2017 movimente mais de 22 milhões de reais. Atualmente, muitas pessoas no mundo todo já optam pelos produtos sem glúten porque têm recebido mais informações sobre os seus inúmeros benefícios, mas um número ainda maior, não associa os problemas de saúde com esta proteína, como doenças auto-imunes, processos inflamatórios e diversos sintomas causados pela intolerância a ela e portanto não optaram por retirá-la da rotina alimentar. É muito importante que cada vez mais pessoas se conscientizem sobre isso”.