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Infância roubada

Criança leva coca do pai para escola e 30 alunas vão parar em hospital

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Autor/Imagem:
Lucinda Cruz, Especial para Notibras - Foto de Arquivo

A mochila da pequena Maria*, de apenas quatro anos, deveria estar cheia de giz de cera, cadernos coloridos e lanchinhos. Mas, em vez disso, levava algo muito mais pesado que seus bracinhos poderiam suportar: o reflexo cruel da realidade que a cercava. Sem saber, a menina carregou papelotes de cocaína para a escola, como se fossem doces, distribuindo-os inocentemente entre os colegas. Como resultado, trinta crianças intoxicadas, hospitalizadas – um retrato do horror que, para muitos, parece distante, mas que escancara a face mais sombria de nossa sociedade.

Não foi Maria quem errou. Ela é apenas uma vítima, como tantas outras, do abandono e da violência que permeiam a infância em tantos lares brasileiros. Enquanto os pequenos aprendem as primeiras letras, muitos já vivem rodeados por um universo que os trata como adultos antes mesmo de entenderem o que isso significa. O pai da menina, um traficante foragido, não só destruiu a própria vida, mas atravessou a linha do irreparável ao permitir que seu céu particular desabasse sobre inocentes.

O caso, ocorrido em Minas Gerais, não é isolado. A miséria e a criminalidade não se resumem às manchetes; elas estão nos corredores das escolas, nos becos das periferias, no choro contido de crianças que deveriam sonhar com brinquedos e não temer a própria realidade. A culpa, afinal, não é só de um pai traficante, mas de um país que permite que isso aconteça, que vira o rosto, que naturaliza o horror.

A justiça agora corre atrás do homem que deixou sua própria filha carregar o peso de sua condenação. Mas e quanto às outras Marias? Quantas mais precisarão carregar o fardo de um mundo que lhes nega a infância? No fim, o verdadeiro crime não está apenas na cocaína dentro da mochila, mas na ausência de futuro dentro de tantas infâncias roubadas.

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*Nome fictício, para não expor a criança e não prejudicar as investigações

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