O dólar abriu a semana negociado em alta, refletindo a indisposição do investidor global em aplicar em ativos de risco em meio à crise protagonizada pela Turquia. A moeda americana chegou à máxima de R$ 3,9127, em alta de 1,15%, pouco depois da abertura do mercado. A Turquia é um exemplo de como os investidores estão retirando dinheiro dos mercados emergentes e optando por mercados mais seguros, como nos EUA, que vem elevando os juros no país.
Pouco antes das 10h, a valorização desacelerava, em linha com o comportamento das moedas no exterior, e o dólar tinha alta de 0,35%, cotado a R$ 3,8817. A moeda turca perdeu mais de 80% em relação ao dólar neste ano, em grande parte devido às preocupações com a influência do presidente Tayyip Erdogan sobre a economia, suas repetidas solicitações por taxas de juros mais baixas e o agravamento dos laços com os Estados Unidos.
Pouco antes, a lira turca reduzira as perdas, em meio a relatos de que o pastor americano Andrew Brunson poderia ser libertado na Turquia. A situação do pastor é um entrave para a relação bilateral entre Estados Unidos e a Turquia, o que levou o presidente americano, Donald Trump, a anunciar, na sexta-feira, a elevação da tarifa de importação sobre aço e alumínio turcos. Já houve, porém, também relatos de que Brunson pode não ser solto.
Às 9h14, o dólar subia a 6,8770 liras turcas, após bater máxima a 7,2169 liras mais cedo.
O banco central turco anunciou nesta segunda-feira, 13, medidas para conter o enfraquecimento da moeda nacional, que no ano já acumula desvalorização de cerca de 80% ante o dólar. Também nesta segunda-feira, a elevação de 25% para 50% na alíquota de importação de aço turco pelos EUA entrou em vigor, segundo a Casa Branca. Na última sexta-feira, o anúncio da medida fez o dólar subir 15,65% ante a lira turca.
No domingo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, alertou sobre “medidas drásticas” caso as empresas retirem moeda estrangeira dos bancos em meio à atual crise monetária do país.
Durante discurso na cidade de Trebizonda, no nordeste da Turquia, Erdogan alertou os empresários a não “correrem para os bancos para retirar moeda estrangeira”. Ele acrescentou que as empresas devem “saber que manter esta nação viva e em pé não é apenas o nosso trabalho, mas também o trabalho de industriais, de comerciantes”.
Em relatório, o operador da H.Commcor Cleber Alessie Machado Neto escreveu que o “forte mau humor com a Turquia persiste nesse início de semana, com os principais mercados internacionais refletindo forte aversão ao risco por parte de investidores, em sua maioria cautelosos com os possíveis contágios desta crise cambial, de confiança e, naturalmente, de receios de solvência”.
Crise contamina mercado de ações – A Bolsa iniciou os negócios em queda nesta segunda-feira, em linha com o comportamento de suas pares globais em mais um dia de aversão a ativos de risco. No foco segue a Turquia, diante do derretimento da lira e do desgaste nas relações do país com os Estados Unidos.
Às 10h30, o Ibovespa recuava 0,66%, aos 76.012,88 pontos. No noticiário político, o Ibope está em campo esta semana para realizar pesquisas de intenção de voto em 13 Estados de todas as regiões brasileiras. Os levantamentos, feitos a pedido de filiais da Rede Globo, irão avaliar os cenários para governo do Estado, Senado e Presidência. Eles têm previsão de divulgação entre quinta-feira e sábado.
As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta segunda, à medida que a crise financeira da Turquia e a forte queda da moeda local levaram investidores a evitar ativos considerados mais arriscados, como ações, e a buscar alternativas tidas como mais seguras, caso do iene.
Caso da Turquia é alerta para outros países emergentes – A Turquia é um exemplo vivo de como os investidores estão retirando dinheiro dos mercados emergentes. Eles podem obter retornos mais seguros nos EUA porque o Federal Reserve vem elevando os juros no país. Ao mesmo tempo o protecionismo está tornando o resto do mundo mais arriscado.
O presidente turco convocou eleições antecipadas este ano, motivadas em parte pelos sinais de que a economia estava cambaleando. A lira desvalorizou mesmo em meio à campanha para sua reeleição.
O forte declínio da moeda reflete também as preocupações quantos aos fundamentos do modelo econômico adotado por Erdogan, dependentes de um setor de construção voraz que, segundo os oponentes, vem enriquecendo o círculo mais próximo do presidente e aumentando a dívida do país.
Desde que Erdogan conquistou um poder executivo total ao ser reeleito em junho, a lira caiu ainda mais, uma vez que o presidente não ouve conselhos de ninguém, agindo por conta própria. Como exemplo do seu poder hoje ampliado, ele tem descartado todos os apelos para aumentar os juros de modo a reduzir a inflação e abrandar a pressão sobre a lira.