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Crise pega em cheio grandes bancos, que sofrem com a inadimplência dos clientes

Os grandes bancos podem ver seus resultados encolher dois dígitos no ano que vem e a rentabilidade ser pressionada para baixo, impactados pelo aumento da inadimplência e também maior peso tributário, como reflexo do ajuste fiscal. O cenário revela um ambiente operacional mais desafiador, na opinião de analistas que aproveitam o final do ano para atualizar suas expectativas para o setor bancário, com a inserção de outro ano de recessão no País em seus modelos.

No cenário mais pessimista, estimado pelo Bank of America Merril Lynch (BofA) – que deu início ao movimento de revisões no final do mês passado – o lucro dos bancos deve cair 18% no próximo ano contra expectativa anterior de alta de 10%. O Credit Suisse, que publicou suas novas projeções, espera queda combinada de 10%, enquanto o UBS e o Deutsche Bank trabalham com desaceleração dos resultados, mas ainda com alta de ao menos um dígito em relação a 2015.

Enquanto de um lado as margens financeiras ainda devem continuar a impulsionar os números do próximo exercício, do outro, a pressão por conta do aumento dos calotes deve elevar as provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs. Para Marcelo Telles, Lucas Lopes, Alonso García e Victor Schabbel, do Credit Suisse, o mercado superestima o crescimento das margens financeiras (NII, na sigla em inglês) e subestima o aumento das provisões em 2016.

“O mercado está falhando em explicar a rápida deterioração dos fundamentos do setor, com todos os bancos, sem exceção, entregando retornos (ROE, na sigla em inglês) abaixo do seu custo de capital nos próximos dois anos, em meio à queda dos empréstimos em termos reais e aumento muito maior do custo de risco”, destacam eles, em relatório ao clientes.

Embora os grandes bancos tenham feito um exercício de desalavancagem de seus balanços, priorizando áreas de menor risco como crédito imobiliário e consignado (com desconto em folha), esse esforço não será suficiente diante do maior alcance do crédito entre a população que o verificado no passado, e a magnitude da extensão da desaceleração econômica, na opinião dos analistas do Credit. Um executivo do setor admite que esse trabalho ainda estava em curso, e a combinação de taxas crescentes de desemprego no Brasil e aumento da contribuição sobre lucro líquido (CSLL) de 15% para 20% deve penalizar o segmento.

“Na visão mais otimista, devemos ter lucro flat em 2016, e boa parte da queda está relacionada à maior carga tributária”, avalia ele, explicando que o ganho não recorrente em créditos tributários (que crescem na mesma proporção que a CSLL foi aumentada e funcionam como moeda de troca para o tributo) virá este ano, mas o imposto maior será sentido nos números do ano que vem.

Apesar disso, a qualidade dos ativos continua a ser a principal preocupação para o setor bancário, dado o aumento das incertezas macroeconômicas e do desemprego no Brasil, segundo Philip Finch, Frederic De Mariz e Mariana Taddeo, do UBS. Eles ressaltam, em relatório, que o risco de calote cresce em duas áreas potenciais: pequenas e médias empresas (principalmente na cadeia de suprimentos para o setor de petróleo e gás) e consignado, mas que o alto índice de cobertura dos bancos de 190% deve amortecer os efeitos.

O crédito deve seguir com ritmo lento de expansão no próximo ano, bem abaixo da inflação, de acordo com analistas. Para Credit Suisse, no caso dos melhores bancos listados, o crescimento pode chegar a no máximo 3% em 2016, piso de vários guidances (projeções) para este ano. Esperam ainda menor reprecificação de crédito no próximo exercício, com impacto mais visível do tímido avanço dos empréstimos.

Como consequência de um ambiente operacional mais desafiador, analistas projetam uma nova rodada de queda nos retornos dos grandes bancos que, desde o aumento dos juros, mantiveram-se próximo ou acima dos 20%. Tito Labarta, do Deutsche, espera que a rentabilidade de Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander seja gradualmente menor, de 17% este ano para 16% em 2016 e 15% em 2017. No entanto, segundo ele, Bradesco e Itaú devem continuar a entregar rentabilidade próxima ou acima dos 20% pelo menos em 2015.

O Deutsche Bank, na contramão das outras casas, elevou a recomendação para as ações do Bradesco de manutenção para compra diante de potencial limitado de queda para os papéis do banco. Já o Credit Suisse fez um rebaixamento generalizado. A indicação para Itaú, BB, Bradesco e Santander passou de neutra para underperform (desempenho abaixo do mercado) sob a justificativa de fracos resultados daqui para frente.

Antes do Credit, o BofA já havia rebaixado o Bradesco de “compra” para “neutra”. Os preço-alvos dos grandes bancos também não passaram ilesos. Como a temporada é de atualizações das projeções, novos rebaixamentos revisões para baixo nas previsões de resultados para 2016 ainda podem ocorrer.

 

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