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Crise política afasta políticos das disputas pelas prefeituras nas eleições de outubro

Ricardo Brito e Julia Lindner

A maior crise política pela qual passou o Congresso desde a Constituinte de 1988 – aliada ao fim do financiamento das campanhas por empresas – terá efeito direto nas eleições municipais. O número de parlamentares que se lança candidato a prefeito e vice-prefeito este ano deverá cair em, pelo menos, 25% em relação a disputas anteriores.

Levantamento preliminar feito pelo Estado com lideranças e comandos partidários indica que 68 deputados federais de 20 partidos deverão concorrer em outubro. Nessa conta, que representa um universo de 476 dos 513 deputados, estão inclusas as maiores bancadas da Câmara. PSDB e PMDB, campeões em candidaturas na eleição municipal passada, com 13 cada um, devem lançar nove cada desta vez. O PT, que indicou 12 candidatos anteriormente, tende a ter sete candidatos. Somente sete partidos, pequenos e nanicos, não responderam aos contatos da reportagem.

No Senado, com a desistência de Romário (PSB-RJ) em disputar a prefeitura fluminense, apenas dois parlamentares devem concorrer: a senadora Marta Suplicy (PMDB) tentará voltar ao comando da capital paulista e o senador Marcelo Crivella (PRB) concorrerá pela terceira vez ao cargo de prefeito do Rio de Janeiro. Em 2012, cinco senadores foram candidatos.

Até o momento, a quantidade de deputados e senadores que devem ser candidatos está em 70 concorrentes – tradicionalmente esse número cai ainda mais até o registro das candidaturas pelos partidos e coligações partidárias, prevista para ocorrer na eleição deste ano em 15 de agosto. A título de comparação, nas três últimas eleições municipais, a quantidade de parlamentares postulantes sempre superou a casa dos 90 em um universo de 594: 92 candidatos em 2012, 95 em 2008 e 91 em 2004.

O diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, afirmou que a redução dos parlamentares que vão concorrer nas eleições municipais se dá por duas razões: o fim do financiamento empresarial das campanhas, determinado pelo Supremo Tribunal Federal, e os custos políticos decorrentes dos escândalos de corrupção, em especial a Operação Lava Jato e as investigações que envolvem o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Os candidatos vão precisar vender o patrimônio se quiserem disputar e ainda vão pagar um preço enorme pelo custo de imagem em função dos escândalos”, afirmou Queiroz, da entidade que faz um acompanhamento das atividades do Congresso há mais de 30 anos Para o dirigente do Diap, sem financiamento das campanhas por empresas, acabará a lógica dos parlamentares que concorrem nas eleições somente para fazer um “recall” com o eleitorado.

“Em lugar de oxigenar seus nomes, os candidatos podem até queimar ainda mais a imagem. Um desempenho pífio pode comprometer uma futura reeleição”, avaliou Queiroz, para quem o número de candidaturas poderá cair ainda até a metade da última eleição municipal.

A Lava Jato parece ter afastado também possíveis concorrentes nas eleições deste ano. No levantamento feito pelo Estado, não consta nenhum nome envolvido na operação.

Para Crivella, a campanha de 2016, sem financiamento empresarial dos candidatos, será “franciscana” e “mais igual”. “Acredito que o Ministério Público Eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral e a própria população vão ter um olhar muito crítico para quem encher a cidade de propaganda, essas coisas conspícuas, perdulárias”, afirmou ele, que concorreu a prefeito no Rio em 2004 e 2008 e ao governo estadual em 2006 e 2014, sempre durante mandatos de senador.

O senador licenciado afirmou que pretende contar nesta eleição com recursos do Fundo Partidário para fazer campanha. Disse que sempre fez campanhas eleitorais modestas e pretende gastar em todo o pleito deste ano entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões. Pelo teto de gastos divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral esta semana, cada candidato a prefeito do Rio pode gastar no primeiro turno até R$ 19,8 milhões e, no segundo, R$ 5,9 milhões.

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