Mais uma vez a economia do Brasil passa por um momento difícil. Paramos de crescer e voltamos a ficar vulneráveis. Esta situação trouxe um sentimento de pessimismo tanto dos brasileiros como dos investidores estrangeiros. Estamos vivendo uma crise de expectativas com relação ao nosso futuro o que compromete e destrói o valor das companhias, mas entendo que há oportunidades trazidas pela crise. Não estamos crescendo e isto é grave, mas não quer dizer que tudo esteja perdido.
As companhias valem pela sua capacidade de gerar fluxos de caixa e de crescer. Quanto maior sua capacidade de crescimento e competitividade, maior o valor. Em contrapartida, quanto maior seu custo de capital e risco, menor o valor. As companhias têm perdido valor pois vêm crescendo menos em média, aumentado seu risco e, por consequência, seu custo de capital.
A Bolsa de Valores brasileira não tem sido um bom parâmetro de valor das companhias. Sua dependência de recursos externos aliada à baixa quantidade de investidores e de empresas listadas fez com que a volatilidade aumentasse, não refletindo no valor das companhias a realidade dos seus fundamentos.
Adicionalmente, e para piorar a situação dos últimos anos, a Bolsa brasileira ficou extremamente concentrada em empresas de commodities e de serviços financeiros. Os problemas enfrentados pelas finanças da Petrobras e do grupo EBX – da queda dos preços do petróleo e do minério de ferro, da piora macroeconômica – prejudicaram ainda mais sua capacidade de retorno. O resultado é uma Bolsa que valoriza pouco, que não cresce, tem baixa liquidez e capacidade de atração de recursos.
Não há como deixar de mencionar que as companhias brasileiras perdem valor pelo que chamo de fator governamental. A extrema intervenção nos setores privados, leniência com a corrupção, alto nível de subsídios, gastança, falta de transparência, ganância e falta de planejamento e de eficiência têm aumentado a percepção negativa sobre o futuro, aumentando o risco e vulnerabilidade das companhias e, por consequência, reduzindo seu valor.
Muitas companhias surfaram os benefícios governamentais das medidas temporárias direcionadas para alguns setores da economia, como por exemplo, o Minha Casa Minha Vida que favoreceu construtoras, o aumento dos recursos para educação via fundos educacionais, o programa de biodiesel e os gastos enormes na cadeia de óleo e gás.
Algumas destas iniciativas trouxeram uma pseudo valorização das companhias, mas muitas se mostraram iniciativas desastrosas gerando enorme destruição de valor. Há diversos outros fatores que vêm destruindo o valor das companhias: o alto custo da energia, a eminente falta de água, altíssimos impostos, baixa industrialização, crédito privado caro e escasso.
Onde estão as oportunidades
Contudo, geralmente os melhores investimentos não estão nos melhores e mais organizados países, ou mesmo nas melhores companhias listadas em Bolsa, mas sim nas empresas menos visadas, naquelas que poucos estão avaliando ou que a maioria dos investidores ainda não percebeu que têm um futuro promissor. O momento que vivemos traz grandes oportunidades para investimentos pois os recursos estão escassos, o risco alto e a percepção de curto prazo extremamente negativa. Os preços dos ativos tendem a cair e, aliados à desvalorização do real, geram enorme atratividade especialmente para investidores internacionais ou para repatriação de recursos.
Vejo oportunidades nas empresas que focam na produtividade e execução com alta performance, que não dependem do governo e que têm repúdio à corrupção. São empresas que inovam, diferenciam seus produtos e serviços, buscam a internacionalização, investem em pesquisa e desenvolvem pessoas.
É evidente o retrocesso do país e do valor das nossas companhias. Mas o que fazer? É necessária uma rápida correção dos fatores macroeconômicos. Não há como conviver no longo prazo com altíssimas taxas de juros e inflação associados a deficit primário, de conta corrente e comercial. Sem essa correção colocaremos em risco o crescimento e perderemos ainda mais valor.
Contudo, não podemos depender tanto do governo. Parte da solução está nas próprias companhias, porém há quem tenha se acostumado com o assistencialismo e com os ganhos fáceis dos últimos anos.
Precisamos rapidamente acelerar o crescimento e restaurar a credibilidade do país e das empresas, evidentemente exigindo do governo uma administração mais austera e eficaz. Retornos sustentáveis altos estão associados à construção de bases sólidas de negócios com foco no longo prazo. Os resultados mágicos das grandes consolidações não acontecem sempre. Assim, não basta simplesmente juntar companhias: é necessário desenvolvê-las.
Vejo essa crise como mais uma oportunidade. É evidente que estamos irritados porque mais uma vez o Brasil perde chances de crescimento acelerado. Mas isso não quer dizer que todos precisemos levar nossos recursos para fora do país e nos mudemos para Miami. A crise passará como muitas já passaram e as oportunidades continuarão aqui.
Como acreditar no Brasil e nos investimentos no longo prazo? Não é uma questão de otimismo, mas de oportunismo, pois em fases como essa, quem se beneficia são os mais informados, corajosos e trabalhadores.
Os momentos de dificuldade são importantes para a evolução. Essa fase dura traz oportunidades de reflexão para melhorias, cortes de custos e principalmente de busca de eficiência. Inspira o desenvolvimento de um espírito empreendedor mais eficaz, intolerante à corrupção, imune às ilusões das promessas de ganhos fáceis de curto prazo e acima de tudo, que foca na busca constante por criação de valor.
Ricardo Mollo