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Cura para tombo duplo de Lula pode sarar com um simples fiz e faço

Luiz Inácio caiu, mas, para delírio de uns e martírio de outros, passa bem. Apesar dos cinco pontos na região da nuca, ele continua bem da cuca, de pé e com a visão cada vez melhor, apesar das costumeiras cabeçadas no esquema de comunicação do governo. Entre alguns balões de ensaio e anúncios equivocados, a pimenta que deveria salivar de dentro para fora destila acidez internamente e acaba atingindo com sua picância a gregos, baianos e até opositores arrependidos. A verdade é que a maioria dos brasileiros não sabe o que Lula está fazendo de bom, de ruim ou de mais ou menos pelo país. Poucos nacionais têm conhecimento de que, este ano, a economia deverá crescer cerca de 2,5%. Não é o paraíso, mas estamos longe do inferno de anos anteriores.

Lula caiu no banheiro. Ele também vem experimentando repetidas quedas nas pesquisas de avaliação de sua administração. Nada que assuste, ainda que os índices, normalmente superiores a 60%, estejam abaixo dos 50%. O que verdadeiramente assusta é a inércia do pomposo módulo de comunicação oficial, cujos líderes não estão nem aí para mostrar aos cerca de 45% que avaliam o governo como ruim ou péssimo que a coisa não é bem assim. Pelo menos é bem melhor do que foi em períodos em que a xenofobia e o racismo imperavam. O problema é que o povo incluído nesse percentual deve achar que a simplória queda no banheiro influenciará nas eleições de 2022.

O derretimento da esquerda no primeiro turno das eleições transformou-se em um prato até aqui de vantagens para a direita menos estridente e mais distante do histrionismo de Jair Messias. Obviamente que a direita deu um banho. No entanto, é bom que haja um recolhimento estratégico dos que duvidam da força dos vanguardistas e, por isso, apostam na derrocada da democracia. Cada eleição tem a sua dinâmica. Se os “patriotas” e detratores não sabem, naturalmente as questões locais imperam sobre a política nacional nas eleições municipais. É o tal do bairrismo.

Os caciques partidários sabem disse. Todavia, o povo desconhece essa máxima. O ótimo desempenho da direita entre os nordestinos é fato. Entretanto, os números não significam que o Nordeste está “endireitando”. Pelo contrário. Depois de décadas esquecido, o Nordeste experimenta um protagonismo que, com certeza, não é construção de prefeito algum. O que ocorre é que os efeitos das políticas públicas do atual governo federal para a região são mal divulgados. Por exemplo, várias capitais nordestinas enfrentam problemas na área de segurança pública.

A população local também desconhece que, embora necessite de apoio financeiro da União, a segurança pública não é federalizada. Ou seja, cada estado tem o seu esquema de controle da violência. Se não agem, a culpa não é de Lula da Silva. Ao contrário de Bolsonaro, Lula não é visto pela maioria da região como o salvador da pátria, mas sim como um deles. Portanto, a hegemonia regional da direita verdadeiramente representa um desgaste, mas não o esfacelamento do petismo ou dos políticos simpatizantes. A queda de Luiz Inácio foi somente um acidente doméstico. Porém, ele continua ereto, eloquente e em plena consciência de que o Brasil do futuro permanecerá livre dos abutres.

É claro que falta ao governo uma pimenta que não fique apenas no cheiro e apimente de uma vez o cenário supostamente pantanoso. Em decorrência dos pontos no cocuruto, Lula não viajará à Rússia, onde, em Kazan, participaria da 16ª. Cúpula dos Brics. A queda e os pontos não foram combinados com os russos de lá. Lula falará por meio de videoconferência. Pimenta não disse, mas há males que vêm para o bem. O cancelamento do encontro com o czar Vladimir Putin impedirá que os russos daqui faturem politicamente qualquer palavra do presidente brasileiro. Sem querer, a rouquidão de Lula novamente calará a descontrolada excitação dos extremistas. Pimenta também não disse isso. Talvez nem tenha pensado. O assessor condimentado foi salvo pelo escorregão. Sem Lula ao lado de Putin, ele ganha tempo para entender que o sucesso de um governo é fundamentalmente a boa informação.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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