Os partidos curdos da Síria estão trabalhando em um plano para declarar uma região federal em grande parte do norte da Síria, disseram vários de seus representantes na última quarta-feira (16). Eles afirmaram que seu objetivo é formalizar a zona semiautônoma que estabeleceram durante cinco anos de guerra e criar um modelo de governo descentralizado em todo o país.
Se eles seguirem adiante com o plano, estarão entrando no agitado debate sobre duas propostas de se redesenhar o mapa do Oriente Médio, cada qual com grandes implicações para a Síria e seus vizinhos.
Uma é a antiga aspiração dos curdos de toda a região de terem um Estado próprio, ou maior autonomia nos países onde estão concentrados: Turquia, Iraque, Irã e Síria, todos os quais veem tais perspectivas com graus variados de horror.
A outra é a ideia de resolver a guerra civil na Síria esculpindo o país, seja em Estados menores ou, mais provavelmente, em alguma espécie de sistema federal. A proposta desse sistema foi aventada recentemente por ex-membros do governo Obama e discutida em público pelo secretário de Estado John Kerry, mas rejeitada não apenas pelo governo sírio, como também por grande parte da oposição.
O que as autoridades curdas da Síria descreveram provavelmente alarmaria muitos dos outros combatentes sírios: uma região federada em todo o território hoje nas mãos das Forças Democráticas Sírias, um grupo liderado por curdos apoiado pelos militares americanos contra o grupo militante Estado Islâmico (EI). Algumas autoridades disseram que ela expandiria o território que os curdos esperam capturar em batalha, não somente do EI, mas também de outros grupos árabes insurgentes.
“O federalismo vai salvar a unidade de toda a Síria”, disse Ibrahim Ibrahim, um porta-voz do Partido da União Democrática (PYD em curdo), de esquerda, que tem um papel de liderança nas áreas curdas da Síria.
A discussão é sobre a possibilidade de um sistema federal não apenas para as áreas de maioria curda, mas para toda a Síria, segundo Ibrahim e outras três autoridades e membros do PYD, que estavam informados sobre as negociações ou participaram delas.
Eles enfatizaram que a entidade não seria chamada de região curda, mas sim uma região federal do norte da Síria, onde árabes e turcomenos teriam direitos iguais.
E sugeriram com firmeza que a ideia não foi sua, mas estava sendo promovida pelos EUA e outras potências. Uma ex-autoridade graduada do governo americano, Philip Gordon, e outros aventaram recentemente a proposta de dividir a Síria em zonas que correspondam aproximadamente às áreas hoje detidas pelo governo, o EI, as milícias curdas e outros insurgentes.
As discussões curdas sobre o norte da Síria estão sendo divulgadas justamente quando uma nova rodada de negociações de paz patrocinadas pela ONU e firmemente promovidas pelos EUA e a Rússia se realiza em Genebra, visando uma solução política para a guerra na Síria.