Na minha árvore genealógica
Duas Helenas tenho
Uma que foi
Uma que vem
A que foi era antiga
Fazia bolo de coco
E pastéis de nata
Chamava a vizinha de senhora e comadre
Perguntou uma vez pra mim:
“Ceci, cadê aquela rapariga, sua amiga?”
Me explicou que, em Portugal, terra natal, era assim
A alcunha que se dava às garotas novas
A Helena que foi
Trazia carinho nos olhos
De um jeito infinito
Tinha um cheiro de flor
E um broche de prata
Que fora de sua avó
E que se foi com ela
A Helena que vem é ainda
Muito pequenina
Nem sabemos se vai gostar
De bolo de coco
A receita se preserva
Como uma relíquia de família
O pastel de nata ninguém mais faz
Não tiveram paciência pra lidar
Com a massa tão complicada
A que vem deverá ter
Cachinhos louros como a mãe
Ou, quem sabe, como a própria Helena que foi
Sem ver crescer a rapariga sua bisneta
E eu, entre essas duas Helenas
Neta de uma e tia de outra
Serei ponte
Contarei história
Saberei apontar quem são as pessoas mortas dos retratos
Falarei dos detalhes mais inúteis
Estou esperando pra sentir
Se a Helena que vem
Terá cheiro de flor ou de neném.