Atenção meninas, meninos e jovens desatentos. Tirem as virgens, os velhos tarados e as velhinhas mais recatadas da sala. Vai começar a 25º. edição do BBB, a grande suruba social, emocional e, às vezes, sexual. Tudo ao vivo, em cores e com patrocínios milionários. Sem não me toques antecipados, a Batalha Besta entre Bobalhões, o reality BBB, além do altíssimo faturamento, serve apenas para expor a inteligência artificial de boa parte do povo brasileiro, alguns loucos pelo poder, outros doidos para aparecer e muitos topando tudo por dinheiro com pouco esforço ou por um lugarzinho temporário no cantinho dos palcos iluminados da transitoriedade da fama.
E tudo pode se acabar na terça-feira como um ciclo menstrual. É o inferno do paredão. Do voto à eliminação são apenas três dias de sofrimento. Mais do que os holofotes passageiros e rentáveis, a ideia é fazer de tudo para ganhar 1 milhão de reais. Causa justa. Aliás, justíssima. Por isso, não vejo exagero algum no fato de as mulheres mostrarem mais do que o necessário e os homens comerem mais do que o possível. Inconcebível e até ridículo é o sujeito ou a sujeita abandonar o propósito por causa de uma repentina e fogosa paixão. Fogo e cio à parte, o BBB é a cara do Brasil com seus calabresos, Babus, cowboys, bonequinhas, sincerões, curumins e vigorosos do Brasil com eco.
Apesar da divulgação positiva e maciça da TV Globo acerca da inclusão de pobres, negros e gays, o BBB tem pouca ou nenhuma diferença do Brasil que ainda espera por dias melhores. É o povo que empenha do anel simbólico ao caneco físico para evitar o paredão infernal do cotidiano. O que a maioria não consegue alcançar é que a vida não é como o Big Brother. Se um de nós for eliminado, não há público que consiga nos trazer de volta. Pelo menos o reality nos dá a clara sensação de que o jogo se assemelha a um pleito eleitoral, particularmente às eleições para presidente, governadores e prefeitos.
Como o game e as eleições começam antes do play, a semelhança está na obrigação de ficarmos espertos, sob pena de, sem direito a autoimunidade, sermos engolidos pelos mais atentos ou, no caso da política, pelos escroques de carteirinha. Aí, nem o anjo nos salvará do paredão. Bom ou ruim, não devemos esquecer que faz 25 anos que o Big Brother ensina o povo brasileiro a cuidar prioritariamente da vida dos outros. Deixar a sua de lado faz parte do dia a dia dos que torcem para um desconhecido ganhar o BBB, mas raramente torce para um amigo vencer na vida.
O que mais me chama atenção no pessoal que age como se fosse um Grande Irmão é não se contentar com o que assiste na programação normal. Os loucos por loucuras, os tarados por infernos pessoais e os voyeurs, aqueles que têm orgasmos múltiplos só de imaginar o que acontece debaixo dos edredons sacolejantes e uivantes, não dormem sem o pay-per-view acionado. Não querem perder o clímax da funhanhada imaginária ou do beijo na boca entre os dois bicudos da casa. Se vivo fosse e assistisse a uma única sessão do BBB, Bocage não teria dúvida em afirmar que o inferno somos nós mesmos.
Enquanto o BBB 25 durar nossas terças-feiras não serão as mesmas de antes. É o dia em que milhões de brasileiros estarão de frente para a TV torcendo ou chorando pelo eliminado da noite. Pior é a falsidade dos que ficam. Como se fosse um clichê, de mãos dadas, a turma do já vai tarde é capaz de, entre lágrimas de crocodilo, anunciar aos berros: Vá com Deus. Nos vemos lá fora. Mentira das mais mentirosas, pois voto dado é voto divulgado. Coitado do emparedado sem medalhas. Ele sai e recebe do mestre de cerimônia a informação de que ele fez bonito na casa mais vigiada do mundo. Eis a razão pela qual não engulo o programa. Para desmistificar essa máxima, cheguei a convidar o então diretor, Boninho, para conhecer meus vizinhos. O convite está de pé.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras