Lavajataismo na sucessão
Dallagnol pode ser oxigênio ou mera língua amputada
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emEsqueçam o Aristides e pensem no que pode acontecer com Sergio Moro, quando o ex-juiz estiver participando do baile de cobras de 2022, não como alguém que fica nas beiradas da pista, mas como dançarino mesmo.
Moro ainda está longe de entrar no baile, mesmo que, por inexperiência, ache que já entrou. Temos por enquanto alguns preparativos importantes, mas apenas preparativos.
Por exemplo, a Globo começa agora a dedicar todas as suas energias ao lavajatista. Até domingo, quando as prévias tucanas acabaram expurgando Eduardo Leite, o gaúcho também era uma aposta da Globo e dividia as atenções com Moro.
Leite revelou-se fraco e está fora, o que facilita a concentração de esforços no preferido, porque a possibilidade de apoio a João Doria está descartada. E Rodrigo Pacheco, por enquanto, nem cobra é, mas apenas uma minhoca com empáfia.
Mas quem – além de Merval, Miriam, Camarotti e assemelhados de outras emissoras de TV e de jornais – está mesmo com Moro?
Para relembrar, militantes de rua pró-governo, que marchavam em defesa de Bolsonaro, como resposta às manifestações das esquerdas, apareciam como tietes de Moro, e não do seu chefe.
As imagens históricas de gente de verde-amarelo nas ruas são de militantes de Moro, com cartazes de exaltação aos seus feitos. Moro protegia a classe média mais branca do vexame de ter de apoiar publicamente Bolsonaro.
Essa direita que exaltava Moro nas ruas não era necessariamente bolsonarista, era apenas antitudo, antiLula, antiPT, anticomunista, antipobre e antinegro e era lavajatista. Bolsonaro fazia o serviço sujo, e Moro era seu Sancho Pança de luxo.
Um magistrado caçador de corruptos garantia um certo glamour ao fascismo dos que pediam o fechamento do Congresso e jogavam no mesmo time de Sara Winter.
Moro deu adeus a Bolsonaro, pela incapacidade de cuidar dos interesses da família e manobrar a Polícia Federal, e está aí agora como um apêndice no espaço desgrudado do bolsonarismo.
Dizer que temos no baile o mesmo justiceiro anticorrupção pode significar alguma coisa para a base que sempre o seguiu com fervor, mas pode não significar mais nada numa campanha.
A palavra corrupção, que parece gasta até pela pronúncia em falsete de Moro, faz parte hoje de uma retórica nas nuvens, é uma paisagem dos cinco anos da caçada a Lula, mas sem alcance eleitoral.
Moro terá de calibrar e dar forma ao que de fato virá a ser como candidato. Seu desafio não é pequeno como calouro. O ex-juiz vai levar bordoada do bolsonarismo e ainda não tem traquejo para se defender.
Não basta montar boas estruturas de Whats e redes sociais. Moro entra num baile que já tem cobras criadas da direita e extrema direita. Terá de sapatear, falar mais alto e com voz mais grossa, responder, atacar. Não bastará dizer qual é a biografia que ele não está lendo.
Vai aguentar? Talvez não aguente. As próximas pesquisas podem mostrá-lo bem acima dos 10%, o que acionará a tropa de elite da extrema direita para a qual trabalhou no governo.
Moro viveu mais de meia década no conforto de Curitiba, com time exclusivo de ajudantes, rapazes criativos e prestativos no Ministério Público, leis e regras usadas a gosto, imprensa amiga, filme do Padilha e livro do filho da Miriam Leitão.
Passou trabalho com Bolsonaro e vai sofrer agora com os amigos de péssimas folhas corridas do Podemos e sob ataque dos filhos e dos amigos dos filhos de Bolsonaro.
O ex-juiz vai sofrer comendo buchada de bode no Nordeste. Vai vacilar quando estiver sob tensão e se dará conta de que hoje ainda não é nada do que pensa que poderia vir a ser.
Moro sabe que trabalhou por empreitada, ao ser inventado como justiceiro pela direita e pela Justiça para caçar Lula e para depois ajudar a inventar e a eleger Bolsonaro.
Hoje, para que serve Sergio Moro? Logo ficaremos sabendo se ele funciona sem um Dallagnol por perto.