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Dando a volta por cima, nas telinhas da TV e nas telonas

Luiz Carlos Merten

Nunca houve uma abertura de filme brasileiro como a de Amor.com, que vai tomar de assalto algumas centenas de salas em todo o País, em 1º de junho. Isis Valverde pisa a passarela, você não sabe se é a atriz ou a personagem. Ela faz todo o percurso, de frente, de costas, e, quando vai desaparecer do quadro, seu nomão – imenso – ocupa toda a tela. Poderosa! Ela se aninha no sofá, em frente ao repórter, faz seu sorriso mais meigo e diz – “Não é?”

A pergunta que não quer calar. No outro dia, saiu na capa de uma revista – Isis Valverde dá a volta por cima. Tão jovem, tão bela, bafejada pelos deuses. Que volta foi essa? Qual a desgraça? “Sei lá, foi alguma chamada sensacionalista do repórter para chamar atenção”, ela dá de ombros. Mas, agora, Isis está concentrada para falar sobre Amor.com e – claro – a novela de Glória Perez. Em A Força do Querer, ela forma aquele triângulo com Fiuk e Marco Pigossi. O capítulo de quinta-feira, 11, acabou com o reencontro de Ritinha com o ex, Zeca, que ela abandonou na Amazônia para seguir o riquinho carioca. Como está sendo a novela? “Acho que bem. Todo mundo gosta, comenta. E a Glória é que é a poderosa.”

Numa recente entrevista com Arlete Salles para falar do retorno de Tieta na TV paga, a intérprete de Carmosina revelou que não perde por nada o novo enredo das 9. “Essa mulher (Glória Perez) é uma feiticeira. Cria todos esses núcleos e, quando vê, você já encontrou sua turma, os personagens com quem se identifica mais e aí não quer perder nenhum capítulo. Paro tudo na hora da novela.” Isis concorda. “Minha primeira novela com ela (Glória) foi Caminho das Índias, eu era uma garota bobinha que queria viver uma grande história no Oriente. E, agora, sou a filha do boto. As águas aproximaram os homens da história e eu, como filha das águas, separo.” No outro dia, o repórter pegou, en passant, um capítulo. A cara de espanto de Maria Fernanda Cândido. Isis, na piscina da mansão, nadando com cauda de sereia

“Ela usa essa cauda da amiga, que pratica sereísmo, mas a novela vai ter essa dúvida permanente – é ou não é (sereia)?” Na sua curta carreira, Isis tem tido papéis marcantes. No cinema, foi Faroeste Caboclo, de René Sampaio, baseado na música famosa do Legião Urbana. Na televisão, O Canto da Sereia, a minissérie de George Moura, com direção de José Luiz Villamarim. Isis assume o próprio preconceito. “Nunca fui de comédia. Burra! Interpretar, só drama, coisas bem pesadas.” E aí surgiu a vlogger de Amor.com Em conversa com o repórter, a diretora Anita Barbosa, filha da produtora Walkiria Barbosa, da Total Entertainment, contou que o roteiro já estava há uns quatro anos encostado na casa, quando ela resolveu filmar. Vamos por partes, como diria o esquartejador. Videoblogue é uma variante de wedlogs e seu conteúdo principal são os vídeos.

Katrina/Isis é uma vlogger, blogueira de moda que se comunica com seu público por meio de vídeos. Sempre elegante, linda, produzida, vive da imagem e soma aos maiores eventos do gênero. Liga-se a Gil Coelho, como ‘Fernando’. Ele é um nerd. Sua área – os games. Fernando é sem noção, esculhambado. Mulambento. Nada o aproxima de Katrina. Nada? Tudo – os sortilégios do amor.

Logo de cara há um momento mágico, muito bem filmado de Amor.com O nerd, que é fera em tecnologia, é chamado para resolver a parada quando o sistema dá pau na hora da inauguração da loja chique. Ele cruza a sala, ouve o comentário desabonador de Katrina sobre sua aparência. Trocam um breve olhar. Todo o filme, a magia de Amor.com, depende daquele momento. Como cantava Elis Regina: Cupido ‘frechou’ meu olhar. “Que legal! É tão bacana falar com as pessoas, porque cada uma vê o filme de um jeito. Coloca suas coisas. Você é o primeiro a falar dessa cena”, anima-se Isis. A diretora cita seu mestre, Daniel Filho, que nunca viu problema em assumir/assimilar referências. As de Anita Barbosa foram filmes como Homens, Mulheres e Crianças, da Jason Reitman, esse mais pelo visual, e os demais pelos personagens e situações.

Um Lugar Chamado Notting Hill, Sintonia de Amor. A vlogger e o nerd não diferem muito da estrela e do livreiro, Julia Roberts e Hugh Grant, na comédia ‘clássica’ de Roger Michell, com roteiro de Richard Curtis. E Sintonia… “Eu amo Tom Hanks e Meg Ryan naquela comédia da Nora Ephron. O final no Empire State é perfeito, e a química… Não existe comédia romântica sem química entre os protagonistas.” Por falar nisso, Isis e Gil Coelho nasceram um para o outro. Na tela, gente, na tela. O romance engrena, mas, como no cultuado Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira – Paulo José e Leila para sempre Diniz -, chega o momento da ‘falseta’.

Olha o spoiler. A falseta é o momento fatídico que (quase) põe tudo a perder. Nando pisa na bola, Katrina tem de escolher entre imagem e sinceridade. Agora, sim, Katrina, senão Isis, tem de dar a volta. E…? “E o quê, se eu acredito que o sentimento é mais profundo e que a imagem é superficial? Claro, né? Tá me zoando?” Isis faz cara de bravinha.

Simonal – No centro de Amor.com, estão temas como o amor em tempos de internet, as questões da celebridade e do anonimato. Katrina/Isis tem uma irmã. Fernando/Gil Coelho tem a mãe, e, se Alexandra Richter está no elenco, você só tem de esperar. Ela não passa impunemente por nenhum filme. Sempre tem aquele momento em que Alexandra brilha e mostra a humaníssima atriz que é. “Eu adoro. O que é a cena dela com o Nando? Mãe e filho, uma coisa breve, mas tão intensa”, avalia Isis. O momento íntimo, familiar. Por falar nisso, Isis consegue levar uma vida de garota ‘normal’, seja lá o que isso signifique? Ou os paparazzi estão sempre em cima?

“Acredito em pesquisa de campo. Fui a um baile funk em busca de inspiração para uma personagem. Coloquei um boné, adotei um jeito sorrateiro e lá fui eu. Consegui passar despercebida, como não?, mas, se percebo que me identificaram, dou um jeito de fugir.” E ela ri, seu riso de moleca. No outro dia, foi ao cinema – shopping – para ver A Bela e a Fera. “Fui com o André.” Quem? “Meu namorado, você não conhece.” As redes sociais entregam – André Resende. Você não vai acreditar, mas a poderosa, quando cita o amado, baixa os olhos, num gesto tímido de recato. Que mulher é essa?

A overdose de Isis Valverde deve continuar. Depois… O mundo é o limite. Antes, quando o repórter citou Faroeste Caboclo – e a cena ‘tórrida’ com Fabrício Boliveiro -, Isis aproveitou. “Filmei de novo com ele. O diretor é Leonardo Domingues, supertalentoso. No filme, estamos Fabrício, Leandro Hassum, e você não vai reconhecer o Leandro das comédias, e eu. O Leandro faz o (Carlos) Imperial. Já tem um primeiro corte, é a história de Wilson Simonal, mas não a do rei do suingue. O Simonal e a mulher. Ele, bêbado, a mulher, deprimida. Nada de humor.” Uma tragédia bem brasileira.

Pesadíssima, o olho dela brilha. Isis Valverde curte seu momento comédia, mas mal pode esperar pelo próximo drama no cinema.

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