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Das fugas da UnB ao fecha-não-fecha de Jair Bolsonaro

Essa semana, o presidente mais velho do Brasil ainda vivo, José Sarney, fará 90 anos.  Ele assumiu o Planalto devido a morte de Tancredo Neves e soube conduzir o país para o regime democrático apesar de tudo ( não vou entrar em detalhes complexos).

Fico curiosa em saber o que ele está achando de ver em pouco mais de 30 anos um país que levou milhares de pessoas as ruas num movimento de “Diretas Já” para que pudessem eleger seus representantes; e que festejou a promulgação de uma Constituição chamada “Cidadã”; que chorou seus mortos e torturados; que se comoveu com o retorno dos seus exilados; que lutou pela liberdade; ter agora em 2020, um Presidente da República com seguidores ignorantes pedindo o retorno de um regime ditatorial… Aos 90 anos, o que Sarney está achando disso?

O Brasil definitivamente precisa olhar para trás e conhecer melhor a sua própria História. Estamos cercados pelo obscurantismo, a burrice e a ignorância sobre nós mesmos. Vi em uma pesquisa que a maioria dos brasileiros pouco sabem sobre o que aconteceu nos governos dos presidentes mais recentes e que ainda estão vivos….

Sou de origem muito pobre, meu pai mal completou o 5o ano do antigo “primário”, mas, ele e minha mãe ( que voltou a estudar aos 40 anos) sempre nos incentivaram a ler, a estudar ! E meu avô materno, Luiz Lopes, saía a pé da vila todos os dias e ia até a banca de jornais da Rodoviária apenas para comprar o jornal, num percurso entre 8 e 10 quilômetros. Cresci vendo o meu vô lendo os jornais e discutindo no bar da esquina da minha rua sobre os acontecimentos da época. Devo ao exemplo do meu avô e aos meus pais, a paixão pela leitura e pelo conhecimento de História.

Os acontecimentos políticos da minha infância desde o governo Figueiredo ainda estão muito nítidos na minha memória. Vi tudo daqui “de baixo, onde as leis são diferentes”, por isso meu recorte não é igual ao de quem pertencia as classes médias e classes altas beneficiados de alguma forma pelo regime, ou seja não tenho o mesmo olhar da filha de militar que ganha pensão até hoje e se veste de verde amarelo pedindo a volta do AI 5 que ela deseja porque que vai lhe garantir mais privilégios individuais em detrimento dos direitos e liberdades individuais e coletivos dos outros… E nem o mesmo olhar dos demais privilegiados que insistem que a sua realidade era a mesna do resto da população, desses defensores de meritocracias em um país desigual e injusto por natureza…

E foi aqui nas ruas da Vila Planalto, um reduto de operários da construção de Brasília, que amanhã completa 60 anos de inaugurada, que aprendemos que ” Um povo sem memória, é um povo débil”.

Pois, nós da Vila Planalto somos exemplo de resistência e sabemos o que é ter a própria memória e a própria História do lugar e das pessoas invisibilizada! Daqui nós vimos bem de perto a História do Brasil passando e fomos atingidos pelos acontecimentos: tivemos a vila cercada no dia do Golpe Militar; abrigamos os estudantes que fugiram da UNB nas diversas invasões a universidade… e sofremos com a remoção de barracos em um tempo que os direitos civis foram suspensos.

Nossa permanência foi conquistada junto com as lutas pela democracia e graças a democracia. Nossas reuniões de moradores pela fixação da Vila eram monitoradas por agentes do SNI sem que soubéssemos… e podem ser hoje constatadas em arquivo público.

Como cidadã que assistiu a tudo isso, mesmo sendo uma criança fico perplexa com o que vejo nesse governo atual com um Presidente da República que flerta com o autoritarismo e quer o fim da democracia e da liberdade. Fico a imaginar como um ex-presidente que promulgou a primeira constituição do governo civil está vendo essa tragédia.

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