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Das primeiras letras aos poemas, um legado do avô

O gaúcho Cleber Pacheco transporta o brilho das esmeraldas para o que escreve. Concurseiro dramaturgo, ele tem um histórico literário envolvente, incluindo os mais diferentes gêneros, como poesia, conto, novela, romance… Quando lhe foram ensinadas as primeiras letras pelo avô, tocou um sininho em sua cabeça: um dia serei escritor. E a lâmpada energizou-se e brilha cada vez mais.

Conheça um pouco sobre o que pensa e o que faz Cleber Pacheco, na entrevista a seguir, concedida por e-mail:

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Meu nome literário é Cleber Pacheco, nasci em Esmeralda- Rio Grande do Sul e é onde moro atualmente. O primeiro texto adulto que consegui publicar foi por meio de um concurso de dramaturgia. Mas me dedico a vários gêneros: poesia, conto, novela, romance.

Como a escrita surgiu na sua vida?

Desde quando muito pequeno queria aprender a ler e escrever. Meu avô era dono de uma livraria e, depois que fui alfabetizado, ele sempre me deixava ler o que estava nas prateleiras. Eu soube desde o início, ainda criança, que era aquilo que eu queria: escrever histórias. O primeiro texto meu publicado em jornal foi quando eu tinha seis anos. Era um suplemento dedicado ao público infantil. Fiquei encantado quando vi o resultado. E muito contente também.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Geralmente as histórias vêm em insights, em imagens mentais que sintetizam a narrativa ou frases que não saem da minha cabeça enquanto eu não as coloco no papel. Sim, na maioria das vezes faço os manuscritos, só depois digito os textos. Quando me ocorre uma imagem muito forte, intuitivamente sei que ela será transformada em livro logo a seguir ou dali a alguns anos, em certos casos. Não é raro eu começar a escrever algo e surgir uma outra história que me fascina e acabo por escrevê-la também.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Os livros foram o meu refúgio. Fui uma criança mais solitária e as histórias me permitiam mergulhar em diversos mundos fascinantes, viver aventuras mágicas, viajar para onde quisesse. Decidi fazer o curso de Letras por causa da disciplina de Literatura. Foi uma escolha acertada, é claro, e essencial para minha trajetória, pois lá aprendi a ler os livros com profundidade, interpretá-los, estudá-los e senti um grande entusiasmo a respeito das descobertas feitas. Costumava sair da aula e ir para a biblioteca do campus para aprimorar o aprendizado feito nas aulas.

Quais são os seus livros favoritos?

Odisseia, A Divina Comédia, Dom Quixote, Em Busca do Tempo Perdido, Ficções, O Templo do Pavilhão Dourado, A Paixão Segundo GH, Ilusões Perdidas, A Invenção de Morel, O Deserto dos Tártaros, As Ondas, As Cidades Invisíveis, Sob o Vulcão, Lord Jim, A Volta do Parafuso, Grande Sertão: Veredas, Nove Estórias, Viagem ao Fim da Noite, O Processo, Os Varões Assinalados.

Quais são seus autores favoritos?

Gosto muito de Dante Alighieri, Marcel Proust, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Virginia Woolf, João Cabral de Melo Neto. E muitos outros.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Para mim acontece pela inspiração mesmo, mas é necessário haver concentração e disciplina, é claro. Sem isso o trabalho não acontece. Na grande maioria das vezes, espero pela inspiração. Às vezes simplesmente decido sentar-me e escrever. Se um autor abandona o seu texto por muito tempo, fica mais difícil retomá-lo.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Geralmente abordo, de um modo ou de outro, questões existenciais : a condição humana, as crises pessoais, a busca pelo desconhecido, o ser, o Grande Mistério. Meus personagens passam por trajetórias de estranhamento, autoconhecimento, de questionamento, por situações-limite.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Para mim a literatura está longe de ser mero entretenimento. Ela deve mergulhar do desconhecido e sondá-lo o máximo possível. Talvez não nos traga respostas definitivas. Mas desperta nossa percepção e nossa consciência a respeito de nós mesmos, do mundo e da vida. A literatura deve suscitar reflexão.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Sim, estou escrevendo um romance. Ele está apenas no início, mas sei para onde ele deve ir, qual a direção a tomar. Ele aborda a questão do conhecimento.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Há dois escritores que me causaram um enorme impacto ainda na adolescência: Clarice Lispector e Marcel Proust. Identifiquei-me com eles imediatamente, foi como se eu houvesse encontrado minhas almas- gêmeas. O primeiro livro de Clarice que li foi Perto do Coração Selvagem. Depois vieram os outros. A cada leitura, um impacto muito forte. De Proust fui lendo lentamente os livros de Em Busca do Tempo Perdido, maravilhado com aquela capacidade de mergulhar na alma humana. Aprendi muito com ambos. Quanto aos autores contemporâneos, tenho descoberto alguns que realmente aprecio: Leonardo Valente, por causa de sua originalidade narrativa, Alberto Lins Caldas, excelente poeta, Cláudio B. Carlos que é romancista, contista e poeta, José Eduardo Degrazia (escritor e tradutor), Franklin Jorge, Daniel Rodas, poeta. Há muita gente escrevendo obras de qualidade.

Como é ser escritor hoje em dia?

Ser escritor no século XXI, no Brasil é um imenso desafio. As dificuldades são inúmeras. Conseguir publicar, divulgar, vender, tudo é difícil. É preciso ser muito persistente e corajoso. Só é realmente escritor quem não pode viver sem a escrita, quem tem a absoluta necessidade de fazê-lo. Caso contrário, desiste facilmente.

Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?

Achei a iniciativa do Notibras excelente, pois abre mais um espaço para a cultura, para os autores brasileiros e oferece oportunidade a todos os que estão trilhando um caminho tão desafiador quanto é o de dedicar-se à literatura. E vem numa hora que é essencial acontecer esse tipo de coisa. Quanto mais espaço para as atividades culturais, melhor.

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Quero apenas agradecer pela oportunidade de divulgar meu trabalho e o de outros escritores e parabenizá-los por essa bela e importante iniciativa.

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