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Um astro

David Byrne enriquece Lollapalooza com show teatral e disco novo

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Autor/Imagem:
Guilherme Sobota

Já são mais de quatro décadas de carreira para David Byrne, e se “visionário” seria uma definição mais abrangente para o caleidoscópio de atividades que ele desempenhou nesse tempo, é como “músico” que ele vem ao Brasil, desta vez, para apresentar seu novíssimo disco, American Utopia (Nonesuch Records). Ele toca no sábado, 24, em São Paulo, no Lollapalooza, e depois Curitiba, 26, Rio, 28, e Belo Horizonte, 29.

O disco é o primeiro em 14 anos – o último esforço solo havia sido Grown Backwards (2004), mas nesse meio tempo ele trabalhou e lançou muitos outros projetos, discos com St. Vincent, Norman Cook e Brian Eno, livros sobre música e bicicletas e filmes (This Must The Place, de Paolo Sorrentino, tem trilha sonora e participação sua).

Brian Eno, aliás, é um colaborador-chave para American Utopia. O disco começou com uma troca entre os dois e Byrne chegou a admitir que seria uma nova colaboração, mas mudanças no projeto fizeram o ex-Talking Head assinar a conta. Outros nomes envolvidos na produção: o músico sensação britânico Sampha e o produtor do The xx Rodaidh McDonald.

Embora o álbum não deva ser considerado uma volta às origens, ele se encaixa perfeitamente na discografia e na persona pública de Byrne: do paraíso até corpos humanos e animais, questões filosóficas caminham com acenos para a política americana e aspirações sociais.

Na opinião do músico – ele falou ao Estado por telefone desde Buenos Aires, no início da semana -, o disco busca um equilíbrio entre certo otimismo notável nos ritmos e harmonias com as críticas e pensamentos mais densos nos textos e letras.

A “utopia americana” seria então mais uma aspiração do que necessariamente um lugar. “É assim que me sinto. Na maior parte do tempo, sou muito feliz. Então isso tem que aparecer mesmo que às vezes me sinta mais crítico ou pessimista sobre as coisas no mundo, na política.” American Utopia dividiu a crítica.

“Ultimamente, não são poucas as coisas assustadoras, e é alentador quando a música de Byrne está disposta a ir até lá. Quando ela vai, ritmos e barulhos escalando de acordo, American Utopia ostenta a música mais excitante que Byrne fez em anos”, afirma a Rolling Stone americana.

Já para a Pitchfork, apesar de Byrne assumir alguns riscos, as canções aqui não encostam nos seus melhores projetos. “Leva menos de um minuto para perceber que você está prestes a embarcar numa viagem difícil, quando a agitada porém educada I Dance Like This é revirada por uma quebra robótica – um retrocesso para uma noção tão anos 1980 de descolado que soa irremediavelmente datada hoje em dia”, diz um trecho particularmente cruel da resenha.

Shows – Para os shows da turnê atual (serão cinco no Brasil, em apenas sete dias), Byrne diz que são diferentes de tudo que já fez antes. “Para ser sincero, acho que são diferentes de tudo que qualquer pessoa já fez.”

No palco, apenas Byrne, os músicos e os instrumentos: mais nada, apenas o fundo cinzento, como na foto desta página. “É teatro, é movimento, o negócio todo se torna uma dança”, explica. Na Argentina, os jornais classificaram a apresentação como um “acontecimento histórico para a música” e a conversão da “experiência musical em obra de arte”.

Na banda que ele traz ao País, três percussionistas brasileiros: Gustavo Santos Leite, Mauro Camilo Refosco e Davi Santiago Vieira. No set list dos shows recentes, vários clássicos do Talking Heads: This Must The Place (Naive Melody), Once in a Lifetime, Burning Down the House, intercalados com material dos discos solos, especialmente, claro, o mais recente.

Amigo de brasileiros célebres como Tom Zé e Caetano Veloso, Byrne diz que é melhor ninguém esperar participações especiais: “Eu os convidei para assistir aos shows, mas não participar”, ri

Aquela densidade que ele usa nas letras do disco se reflete quando ele é questionado sobre o que sente em relação à política americana e global dos dias de hoje. “Apesar de muitos erros e algumas coisas terríveis, os Estados Unidos eram um modelo de democracia, de inclusão, de possibilidade de lugar que um imigrante pudesse vir e descobrir uma nova vida que fosse impossível para eles em seus próprios países. Tudo isso parece estar acabando.”

“O mundo olha para a América agora e diz: ‘’Que bagunça, que piada’. Acho que estão observando a China e dá para entender por que eles tiveram um sucesso econômico, e há a infraestrutura que eles levam para outros lugares. Os Estados Unidos só estão fazendo guerras no momento. Mesmo que a China seja uma ditadura, as pessoas estão olhando e pensando: bem, talvez isso seja melhor do que os Estados Unidos fazem agora.”

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