Diz-se por aí que de cineasta, médico e louco, todo mundo tem um pouco. Vou mudar a regra: de advogado, poeta e louco, todo mundo tem um pouco (principalmente quando conhecemos o lado nômade de uma pessoa). O leitor pode até estranhar esse trocadilho, mas foi o que mais me chamou a atenção na entrevista que fiz com Renan. Ele representa a fusão das duas teses.
Palavras dele ajudam a corroborar essa minha teoria: visões sobre algum assunto e/ou coisa, reflexões existencialistas e simbolismos servem de inspiração para colocar no papel o que convencionamos chamar de contos, crônicas, poemas e romances.
Quer ver se me expliquei direito? Então, leia a seguir a entrevista que fiz com Renan Damázio Rosa, um carioca da gema sem raízes profundas. Até porque – repetindo palavras dele – há o lado nômade.
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Meu nome é Renan Damázio Rosa. Sou advogado, escritor e poeta, nascido e residente na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente resido em Jacarepaguá, mas me considero um pouco nômade (risos). Estou sempre me mudando. Minha trajetória enquanto artista se iniciou precocemente. Aos seis anos de idade iniciei tentativas do que viriam a ser poemas e prosas. Imaginava histórias fantasiosas e momentos que não condiziam com a realidade. Me considero um idealista. Foi desta forma que percorri minha adolescência e fase adulta. Apliquei esse estilo de vida ao meu trabalho enquanto escritor e poeta, e aos poucos fui moldando o meu próprio estilo.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Como disse anteriormente, ela chegou muito cedo. Nunca enxerguei as coisas sob o véu cinza da normalidade. Acredito que isso moldou o que sou e como enxergo e trabalho com a escrita. Identificar a arte e transbordá-la do mundo interior para o exterior é gratificante para mim.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
São muitas as inspirações. Romances, experiências, visões sobre algum assunto e/ou coisa, reflexões existencialistas e simbolismos. Porém, resumidamente, existe sempre a temática do amor e da dor. A dualidade da vida é sempre um tema recorrente na construção dos meus textos.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
A interferência é claramente direta. As dificuldades, as decepções, perdas, alegrias, angústias, esperanças. Todo o somatório de sensações me faz refletir sobre o conjunto. Deste conjunto, penso em um ponto específico e canalizo-o para torna-lo um tema para um texto. Além do âmbito pessoal/sentimental, o crescimento enquanto ser humano e vivências cotidianas, como trabalho, estudo, viagens, diálogos, auxiliam nesta confecção de temáticas e abordagens. É tudo aquilo que me formou até aqui.
Quais são os seus livros favoritos?
Leitura é essencial, em qualquer temática, mas confesso que tenho os meus prediletos. São eles: “1984”, de George Orwell; “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez; e, “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë.
Quais são os seus autores favoritos?
Franz Kafka, Machado de Assis, J. R. R. Tolkien, George Orwell, Vinícius de Moraes, Albert Camus, Cecília Meireles, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Acredito que a concentração. Enquanto estiver concentrado, no meu silêncio, em conversa comigo, conseguirei me inspirar automaticamente para escrever. É intrínseco de mim enquanto poeta. Isso não quer dizer que ficarei totalmente satisfeito com o que escrevo, todavia, a qualidade não depende da inspiração. Inspiração é oxigênio para o poeta, mas acredito que o hábito molda a forma como escreve, o que escreve e para onde direciona.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Existência. É a escolha principal, porque é sobre isto que penso na maior parte do tempo. Qual é o nosso propósito? Para onde estamos indo? Qual o destino de amanhã? Me considero uma pessoa ansiosa (risos). Entretanto, nesta temática de existência, é normal que me encontre com temáticas diversas, como amor, paixão, morte, espiritual, mitos, entre outros.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
Conexão. A literatura conecta emoções e reflexões (e por esta mesma razão, esse é o título do meu primeiro livro de poemas – “Emoções e Reflexões”, de Renan Damázio, 2020, Editora Cervus). Por meio desta conexão entre sensações, sentimentos, pensamentos, o leitor se conecta ao escritor e apreende parte do saber e do sentir. Consequentemente, levará essas experiências para outros indivíduos. A literatura, com isso, tem o poder de tornar o Mundo melhor.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Sim. Estou próximo de tornar real o meu terceiro lançamento, na temática de poesia, que será anunciado nas redes sociais, após hiato de 03 (três) anos. Publiquei duas obras, consecutivamente, em 2020 (Emoções e Reflexões), em formato físico, e 2021 (Vencendo os Obstáculos para Escrever o seu Romance), em formato e-book. Ainda sigo trabalhando para lançamento do meu Romance, que acredito que se tornará em uma trilogia na temática de Fantasia. Estou ansioso por tudo isso.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Eu sou um grande admirador de Drummond, no âmbito nacional. Acredito que foi uma grande inspiração para escrever poesias e perdurar neste percurso, desde a infância. No âmbito internacional, eu tenho referências também. São Kafka e Albert Camus, com certeza. Há particularidades em suas temáticas que conversem muito com reflexões minhas. Quanto a autores/poetas contemporâneos, faço questão de citá-los, ainda mais para um veículo informacional como esse. Admiro o trabalho do poeta Jean Carlo Barusso (@jeancarlobarusso), e sempre conversamos sobre estilos, trabalho, carreira literária. Ele foi uma das minhas referências para poder expor a minha arte. De outro lado, faço questão de citar o trabalho do meu querido amigo, poeta, mestre e colega de profissão, Daniel Marchi (prof.danielmarchi), que está próximo do lançamento do seu livro de poesias chamado “A Verdade nos Seres”. Ele sabe o quanto admiro seu trabalho e isso independe de nossa relação pessoal.
Como é ser escritor hoje em dia?
Fácil não é. É uma posição que requer paciência, muitas vezes não remunera, há dificuldades na distribuição e visibilidade. O artista no Brasil enfrenta desafios, infelizmente. Todavia, acredito que se nos apoiarmos, só teremos motivos para crescer. Por outro lado, tem seus benefícios e facilidades, se for considerar a atualidade. A comunicação é mais fácil, principalmente se for acompanhado de um bom marketing. Temos tecnologia disponível para auto divulgação em contas individuais também, nas redes sociais, que ajudam no foco e organização do conteúdo escrito e publicado.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Sensacional. Li as publicações a respeito e creio que tem tudo para crescer e evoluir. Tem o meu total apoio enquanto pessoa e profissional. Estou ansioso pelas novidades.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Não, acredito que todas as suas perguntas foram assertivas. Eu agradeço pela oportunidade e desejo todo sucesso para esse grupo, assim como para o Café Literário. É o apoio entre artistas que fomenta esta máquina.