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‘De escultor a escritor, pintando e perfumando letras’

De São Caetano do Sul, em São Paulo, a Andaraí, na exuberante Chapada Diamantina da Bahia, é um percurso que se faz admirando o que há de mais belo na natureza. E foi justamente esta viagem que o paulista William Ramires fez, para ficar raízes e produzir esculturas para encantar o mundo. Mas, como nem tudo são flores, esse contista, cronista, ensaísta, poeta e romancista decidiu, um belo dia, enveredar pelo caminho das letras.

É dele uma frase antológica:  escrevo por um mundo melhor, colorindo e perfumando as letras.

Acompanhe a seguir trechos da entrevista, feita por e-mail:

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Sou William Roberto Fraga Ramires, nasci em São Caetano do Sul, SP em 1977, mas desde 2000 vivo na Bahia, na Chapada Diamantina, moro em Andaraí. Sou um Artista Plástico formado pela UFBA. Trabalho com artes há 25 anos. Tempo dedicado as gravuras: xilogravura, gravura em metal, litografia e serigrafia. Já participei de centenas de exposições nacionais e internacionais. Em 2023 saturado de me dedicar as artes e não ter um reconhecimento adequado comecei a escrever para extravasar minha criatividade. Desde então não consegui parar de escrever. Em pouco mais de um ano escrevendo já participei de mais de 150 antologias, escrevi mais de 400 contos e crônicas e lancei meu primeiro livro de contos: Por um mundo melhor (Opera, 2024).

Como a escrita surgiu na sua vida?

Trabalhando com arte às vezes precisamos fazer projetos, escrever sobre o contexto, sobre conceito artístico. Meus projetos sempre recebiam elogios e muitas vezes eram aprovados, com o tempo fui percebendo que não era meu trabalho artístico que chamava a atenção e sim a forma como escrevo, a maneira de colocar as ideias no papel. Outro fato que me chamou a atenção para escrita foi quando estava viajando e escrevia num blog sobre a viagem, um primo meu comentou que gostava da forma com que eu contava as histórias.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Tudo é inspiração. E a criatividade é fundamental, busco referencias aleatórias, informações do dia-a-dia e ler muito os escritores clássicos e contemporâneos.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Quase tudo que escrevo tem um pouco de minha vivencia, gosto de imaginar que escrevo autoficção imaginativa, e como reviver sua própria história fantasiando, sonhando com outros finais, outros começos. Uso o que vi e vivi para sair da Terra ou enfrentar horrores cósmicos, até casos de amor ou distopias autoritárias. A vida é revivida em letras que ultrapassam o esperado.

Quais são os seus livros favoritos?

Alice no país das maravilhas e A caverna – Saramago

Quais são seus autores favoritos?

Quiroga, Borges, Saramago, Graciliano Ramos, Ignácio de Loyola, Mario Llosa, Raquel de Queiroz, Clarisse Lispector, Philip K. Dick e Machado de Assis.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Escrever e sentar e puxar de dentro de sua alma as letras até formar palavras, é construir frase por frase, como um pedreiro assentando tijolos para levantar uma casa. A inspiração, para mim vem com a ideia, depois o processo e trabalhoso e constante. Melhorar as frases, acrescentar pequenas memórias nas entrelinhas, projetar um pensamento, dar vida a um personagem, o habito faz a escrita, mas como processo intelectual temos que nos desligar do entorno e entrar em outros mundos.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Ficção especulativa, gosto deste conceito e um aglomerado de fantasia, ficção cientifica, terror, e muito mais… acho que assim dá para abranger meu universo de fantasia e ficção científica.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

A literatura deveria ser o remédio para todos os males da humanidade, infelizmente tem pessoas que ganham com a ignorância do povo e acabam condenando os prazeres da descoberta literária.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Sempre, estou organizando dez livros de contos.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Saramago, Gabriel García Márquez, Mondiano e Graciliano.

Como é ser escritor hoje em dia?

Temos um cenário nacional para a arte em geral bem precário, ser escritor e nadar contra a corrente.

Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria de Notibras?

Toda iniciativa de divulgação da literatura é importante, quanto mais espaços para novos escritores mais chances temos de melhorar o mundo.

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Gosto de escrever em minha biografia que escrevo por um mundo melhor, colorindo e perfumando as letras. Vamos ler.

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