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De mãe para a filha, para a neta… É a fruta do pecado do amor

Foi com o fruto nas mãos que sentiu as primeiras dores. Abandonou-o num canto qualquer e procurou socorro o mais rápido que pode. Havia urgência. A criança viria logo após o líquido que escorria até os seus pés.

Num repente, nada do planejado funcionou. A bolsa com as roupinhas, onde estava? O telefone para ligar para o pai desavisado encontrou num canto, quase sem bateria. Recorreu à vizinha que arregalou os olhos diante da situação. Ligou 192, a ambulância veio e ela foi. Sem amparo, sem as coisas da criança. Sem o chinelinho macio comprado para a ocasião. Na mão crispada pela dor das contrações somente os documentos e o cartão que dava direito ao atendimento no serviço público. Sentiu-se desamparada.

Não podia reter a força da natureza e, ainda na viagem, a criança nasceu. Olho encheu d’água quando ouviu o grito inaugurando a vida. Não era emoção.

– Parabéns, mamãe! É saudável.

– Cadê o pai? – nem foi avisado.

Colocaram a criança de qualquer jeito em seu colo. Moa lembrou da maçã abandonada cortada na vertical. Feminina também.

A menina cresceu como veio ao mundo, repleta de ausências: do pai, da mãe que parecia não atender às expectativas da maternidade. Apenas permanecia ao seu lado, cumprindo os rituais inevitáveis que a sociedade impunha. Fora isso, pouca coisa.

Herdou de Moa o fascínio pela fruta e dos poucos conselhos que ouvia, comer uma maçã por dia, foi o que mais acatou.

Era a merenda recorrente na escola, vez ou outra transformava-se em presente para a professora, companheira nas horas de leitura, distração durante os programas de TV. Sabor dividido entre os segredos trocados com a melhor amiga.

Com o tempo, a maneira de degustar a fruta mudou. Mordidas, mais longas, provocando barulho, a suculência escorrendo no canto da boca. O primeiro beijo treinou numa red doce e bem macia.

Fruto maduro, desejo e Tácio. Mistura perigosa, encontro de anseios. Descobertas. Fruta envolta na calda quente, resistente e brilhante. Apeteceu. No seu nome a fantasia do amor. Semente ingerida, pequena dose de cianeto, se não mata, engorda. No solo fértil, brotou.

Moa não apoiou e Tácio lhe deu apenas uma maçã verde, tão ácida quanto as acusações proferidas na despedida.

Meio sem querer, cortou a fruta na horizontal. Observou o resultado do engano e encheu-se de força.

Foi com a fruta nas mãos que Evany sentiu as primeiras dores. Abandonou-a num canto qualquer e procurou socorro. Num repente, nada do planejado funcionou.

Tudo aconteceu muito rápido. O ciclo reiniciou.

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