Negacionismo ambiental
De que vale ter tudo na vida se um dia nos faltar o ar?
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emO negacionismo climático defendido pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro é a prova de que os mentecaptos ou mentalmente desordenados se atraem. Eles não estão sozinhos. Os principais defensores do desmatamento e tudo que possa destruir o ambiente são os dirigentes de países que se tornaram ricos e poderosos em decorrência da exploração desenfreada e, às vezes criminosa, de combustíveis fósseis. A retórica brasileira pela manutenção das florestas vai de encontro às nações que preferem apostar no caos a trabalhar por um planeta melhor.
Para qualquer leigo, um planeta melhor significa, a curto prazo, a redução da emissão de gases de efeito estufa. Além de soar como palavrão, essa proposta incomoda os líderes das potências poluidoras. Tanto que, sem nenhuma preocupação com o futuro da população mundial, a maioria preferiu se ausentar da COP 29, realizada no Arzebaijão, a ouvir o que propunham os mandatários preocupados com a sustentabilidade, com os avanços do aquecimento global, consequentemente com a saúde das gerações vindouras. Conforme previsão de renomados cientistas, 2024 será o ano mais quente da humanidade.
A expectativa é de que os próximos anos sejam bem mais sombrios. A realidade, porém, só será alcançada por quem conseguir viver. Enquanto isso, os “donos da terra” vivem no mundo da lua. Idiota não fosse catastrófico, o argumento dos líderes dos países produtores de petróleo e gás é que eles não devem ser responsabilizados pelo aquecimento, na medida em que Deus os agraciou com esses tipos de combustíveis. Está claro que o foco deles é virar as costas para a crise climática.
Considerando o atual nível global de aquecimento, com temperaturas 1,65ºC acima do nível pré-industrial, os futuros pares de anos talvez exacerbem a tese cada vez menos fantasiosa do salve-se quem puder.
É lógico que devemos viver o hoje. No entanto, o que está em jogo é nossa habilidade de sobreviver no planeta Terra, de ter um futuro como civilização. Durante duas ou três décadas o oceanógrafo francês Jacques Cousteau alertou os que decidem sobre o mundo para jamais deixarem de avaliar o impacto de hoje no amanhã. Esqueceram, da mesma forma que faz tempo não lembram que todos somos mortais. O Brasil, mais precisamente o Pará, se prepara para receber a 30ª. Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em novembro de 2025, na cidade de Belém. Encontro anual e global entre líderes, cientistas, Ongs e representantes da sociedade civil para discutir ações de combate às mudanças do clima, a COP30 deverá ser diferente de todas as demais.
Afinal, apesar das mentiras internacionalizadas a respeito da região amazônica, uma coisa é discutir a Amazônia em Berlim, Paris, Londres, Nova York ou no Egito. Desta vez, a importância da região será discutida na própria região. O Brasil apresentará ao mundo, principalmente aos extremistas de direita, que as políticas anticarbono, isto é, em defesa do meio ambiente, não são uma conspiração da esquerda. Conspiradores são eles que, com base em conhecimentos científicos, sabem que a luta dos ambientalistas é correta. No entanto, eles preferem negar o óbvio com medo de que o sucesso dos positivistas ameace o poder esquizofrênico de seus pares.
É o caso do presidente eleito dos EUA, do presidente da Argentina, Javier Milei, do ex-presidente do Brasil, do agronegócio e de seus similares, cujo pavor de perder o comando político, o conforto financeiro e o poder econômico é proporcional à tese globalizada de que a despreocupação com o ecossistema um dia colocará a Terra sob risco de não ser capaz de prover as necessidades da humanidade. Berço de todos, hoje Gaia (a Mãe-Terra) está em fase de esgotamento de sua própria regeneração. Nesse dia que ninguém espera, mesmo contra a vontade, poderosos, negacionistas, divergentes e ideólogos por conveniência se juntarão àqueles que trabalharam arduamente pela recuperação do meio ambiente em busca do que comer, do que beber e, fundamentalmente, do ar para respirar. É hora de deixarmos de lado a temporariedade do faz de conta e defender o que ainda é palpável e real: a vida. De que vale ter tudo se nos faltar o ar?
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978