Em uma noite de comemoração. Fomos ao nosso restaurante preferido.
Sentados para jantar, eis que adentra um casal.
Coincidentemente, uma amiga de infância do meu marido.
Foi impossível passarmos despercebidos, e enquanto caminhava acompanhado pelo maître, parou para nos cumprimentar.
Meu marido, então, a convidou para que sentasse conosco.
Feliz em nos rever, aceitou o convite.
O que não imaginava era que eu já conhecia o marido dela.
O casal sentou-se conosco. Ela diante de Pedro e eu, diante de Rogério.
Isa, sempre alegre e efusiva apresentou seu novo marido.
Percebi o espanto dele, ao ser apresentado a mim e ao Pedro.
Também engoli em seco, e procurei disfarçar por todo o jantar.
Isa e Pedro passaram a noite relembrando as traquinagens e como a vida levou a afastar-se de todos e como planejara voltar à cidade e reconstruir sua vida, e quando e como conheceu Rogério.
Percebi que exatamente o momento em que Isa entrou na vida de Rogério, eu o estava deixando.
Nosso relacionamento foi de uma paixão desenfreada, e eu sabia que não daria certo manter-me naquele mar revolto.
Foi muito dolorido e necessário, o abandono.
Rogério praticamente não falou.
Diante de mim, seus olhos não fugiam do meu rosto. Tentei várias vezes desviar o olhar, e fingir que acompanhava a conversa dos amigos, porém, em um décimo de segundo, nossos olhos se encontraram e a sensação foi fulminante.
Senti-me penetrar no seu corpo assim como ele penetrou no meu – profundamente.
A paixão ardeu.
Acredito que ele também retribuiu.
Ficou difícil respirar, e sorver um gole do vinho em uma tentativa de apagar o fogo que me queimava.
A noite foi um martírio. Somente os olhares viviam.
Enquanto Isa e Pedro tagarelavam e riam sem perceberem o pacto silencioso que se estabelecia entre nós.
Mas o pior de tudo foi a despedida.
Um gesto final, um beijo trocado na face, buscava o canto da boca e um abraço disfarçado, me puxava para si, fazendo com que eu sentisse a sua mão envolta da minha cintura, do jeitinho que costumava me pegar e jogar na cama.
Em frente ao restaurante, cada casal aguardou o manobreiro trazer os carros.
E assim cada um seguiu o seu destino.
Durante a volta, eu me confrontava com minhas emoções e observava meu marido.
Em casa deitada ao lado de Pedro, agradeci por tê-lo como companheiro.
Afinal, paixão é flor roxa que dá no coração de trouxas.