Geração sessentinha
De sotaque em sotaque, Brasília cria suas gírias
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emComo a própria língua portuguesa, as gírias também têm vida própria e mudam com o passar do tempo. Em 60 anos, as gerações de Brasília já usaram muitas delas, mas quais são genuínas da capital federal? Segundo o professor e pesquisador de sociolinguística Newton Lima Neto, mais importante que saber se nasceram aqui, ou vieram de outro lugar, é entender se há consistência no uso delas.
“A gente dificilmente chegará a uma resposta se ‘véi’ é uma gíria tipicamente brasiliense. Você pode ir no interior de São Paulo e encontrar também essa gíria, mas como que ela é falada lá? Em Brasília, você altera a entonação e você pode mudar completamente o sentido da frase”, explica.
As gírias são palavras que ganham novos sentidos entre um grupo de pessoas. Segundo Newton, elas fazem parte do dialeto, que inclui sotaque, ritmo e palavras. Algumas surgem em função de comportamentos, lugares e até características arquitetônicas de uma cidade. “Na parte central de Brasília, no Plano Piloto, vários termos têm entrado na fala da população jovem, como ‘tesourinha’, ‘fazer um balão’, ou então brincar ‘debaixo do bloco’. Não necessariamente isso é a verdade em outras partes da cidade, ou em outros estados”, explica.
Muitas gírias são lançadas entre grupos de pessoas que vivem em uma cidade, mas nem todas vão realmente compor o repertório de expressões daquele lugar. Newton lembra do exemplo da gíria “camelo” empregada para identificar bicicleta, que ganhou fama em uma das músicas da banda Legião Urbana. “Talvez aquele pequeno grupo de jovens usasse ‘camelo’, e um deles ficou famoso. Então, a gente não pode atribuir necessariamente ‘camelo’ como uma expressão tipicamente brasiliense, porque se você escuta a fala dos jovens hoje, quem é que está usando isso?”, diz.
Assim como o sotaque, as gírias contam partes da história e representam uma ferramenta importante na construção cultural de Brasília. “Se uma comunidade está escolhendo determinadas expressões para compor o seu repertório linguístico, isso aponta, sim, para uma constituição de identidade”, conclui Newton.