Laranja Madura, de Ataulfo Alves, nunca esteve tão atual. Não porque transporte apenas a um laranjal político podre nessas estradas do Brasil bolsonarista, mas também, e principalmente, ao lembrar que santo que vê muita esmola em sua sacola desconfia e não faz milagre, não. Pois foi justamente isso que aconteceu nesta terça, 16, com o senador Flávio Bolsonaro, ao amargar uma fragorosa derrota na Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que rejeitou, no âmbito do processo das rachadinhas, um novo recurso contestando o compartilhamento de informações do Coaf com o Ministério Público do Rio de Janeiro.
Os relatórios, que explodiram no colo do filho 01 e espalharam estilhaços em todo o clã Bolsonaro, foram o ponto de partida das investigações, apontando uma série de práticas suspeitas, como depósitos e saques de dinheiro fracionados envolvendo auxiliares do filho do presidente da República. Agora, o que era apenas um ‘Caso Queiroz’, virou um pesadelo que transporta ao Inferno, não aquele de Dante, mas o comandado pelo próprio Diabo.
Com a nova decisão do STJ, fica mais fácil chegar à lavanderia do dinheiro tomado de assessores de Flávio, quando ele era deputado estadual pelo Rio. Investigadores do Ministério Público admitem que a fortuna do senador pode ser atribuída ao sistema das rachadinhas. Como suspeita-se de lavagem de dinheiro com a compra principalmente de imóveis, ninguém descarta a possibilidade de saber de onde vieram os recursos para dar entrada na mansão adquirida em Brasília por 6 milhões de reais, dos quais 3 milhões foram financiados pelo BRB.
O recurso ao STJ era para anular o compartilhamento de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras com o MP do Rio de Janeiro. Mai do que nunca, sustentam procuradores e promotores, os documentos sobre a atividade financeira de Flávio Bolsonaro embasam o inquérito aberto contra o senador.
A título de recordação: em 2018, técnicos do Coaf elaboraram um relatório sobre a movimentação financeira de deputados estaduais do Rio de Janeiro e assessores lotados em seus gabinetes, apontando para indícios da prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa fluminense. A defesa do senador Flavio Bolsonaro afirmava que os relatórios deveriam ser descartados enquanto prova, alegando que o compartilhamento não poderia ter acontecido.