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Decoração de madeira para amenizar o excesso de iluminação

Foto/Reprodução/Pixabay

Vivian Codogno

A mensagem primordial que a arquiteta paulistana Flavia Campos absorveu quando se envolveu no projeto de reforma deste apartamento foi o desejo dos proprietários, um casal com idade próxima aos 60 anos, de aproveitar o que a vida tem a oferecer. Ele, aposentado, assume-se enquanto um anfitrião que adora receber amigos. Ela, psicanalista, dedica seu tempo livre aos livros, ao cinema e à boa música. Traçado o perfil dos clientes, Flavia aceitou o desafio de dotar o amplo e luminoso espaço desse duplex de ambientes que fossem além do meramente utilitário.

Logo de início, a arquiteta percebeu que a alegria do casal passava por aproveitar ao máximo a luz natural que entra no apartamento. Porém, a luminosidade intensa vinda das portas e janelas deixava a residência muitas vezes com uma atmosfera impessoal. Para aplacar essa sensação, Flavia apostou sem moderação na madeira do tipo freijó e revestiu portas, armários, móveis e superfícies verticais. E, conforme imaginava a arquiteta, a tonalidade do material ajudou a amenizar – e muito – a luz extrema.

“Tudo que é muito claro tende a parecer pouco confortável”, explica Flavia. “Por isso, optei por usar a madeira em tom claro. Ela realmente funciona como um agente moderador, sem produzir um contraste muito acentuado, que seria por demais agressivo aos olhos”, detalha.

A composição do piso também seguiu a preocupação central com o conforto e a fluidez. O chão dos ambientes foi recoberto, em parte, por mármore e, em outros momentos, por placas de tecnocimento acetinado. Na decisão pesou também a intenção de não abusar demais do branco e do consequente reflexo causado pela incidência direta da luz sobre superfícies muito claras. “É preciso encontrar um equilíbrio também para o piso, pois ele reflete muito a luminosidade. Caso contrário, o espaço adquire uma informação gélida, uma cara de cozinha industrial”, conta Flavia. Ao mesmo tempo, pontua ela, o uso do tecnocimento na cozinha deu ao ambiente uma informação de rusticidade. “É aquele chão em que você pode andar descalço, sabe? Ficou com uma cara de sala”, diverte-se a arquiteta.

Assim, a combinação equilibrada de cores e texturas entre pisos, paredes revestidas e o pé-direito alto deram a Flavia a chance de planejar os ambientes de forma ampla, de modo que os moradores e visitantes, ao percorrer os diversos ambientes, não sentissem uma mudança drástica da ‘paisagem’. Nesse sentido, a arquiteta não se furtou a derrubar paredes para ampliar o campo de visão e oferecer fluidez ao apartamento como um todo.

“A madeira nas paredes surge em contraponto ao piso. Seu uso valorizou o apartamento e amarrou todo o projeto. No mais, tudo o que fiz foi eliminar divisórias visuais. Empregadas nos móveis as cores concluíram o resto do trabalho”, reflete Flavia.

Por fim, a ‘cereja do bolo’ do apartamento ficou a cargo de algumas sutilezas que preservaram a identidade e ajudaram a contar a história dos proprietários. O apreço do casal por design foi enfatizado pela presença de duas cadeiras do designer Sergio Rodrigues, no centro da sala de estar. O sofá da varanda, por sua vez, vem acompanhando as mudanças dos moradores ao longo de 20 anos e recebeu nova roupagem. Os vinhos e demais garrafas de bebidas garimpadas nas várias viagens realizadas estão acomodados em duas adegas localizadas estrategicamente no escritório, que guarda os rótulos de estimação dos moradores, e na cozinha, para receber os muitos convidados que não cansam de elogiar a atmosfera especial do apartamento.

“É realmente gratificante chegar a um produto satisfatório aos olhos de seu cliente. Encontrar o consenso entre a vontade dos proprietários e suas intervenções. Saber ouvir, interpretar e levar isso para o projeto com um equilíbrio estético”, considera Flavia. “Nesse caso, o que mais me encantou foi traduzir esse clima de ‘dolce vita’ deles”, brinca a arquiteta, em uma referência ao clássico de Federico Fellini.

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