A Polícia Civil do Distrito Federal vive um dilema nas últimas setenta e duas horas. Ou assume publicamente, de um lado, a existência de investigações sobre denúncias de assédio moral e sexual a servidoras do Planetário de Brasília; ou, de outro, continua negando, como fez até esta terça-feira 20, que há casos em apuração.
As apostas são de que para manter a tradição de uma instituição séria, que trabalha em defesa da sociedade, o diretor-geral Éric Sebba determine a abertura dos arquivos da Delegacia da Mulher sobre o assunto. Outra hipótese, pouco provável, é a de que seja mantida a negativa, levantando-se, assim, a suspeição de que o poder econômico tenta abafar o caso.
As denúncias de assédio estão registradas na Delegacia da Mulher e na delegacia policial regional de Taguatinga. Ao menos cinco funcionárias já declararam às autoridades policiais terem sido vítimas de superiores no Planetário no horário de trabalho.
“Vivi momentos constrangedores. Cheguei a ser apalpada nas partes íntimas”, revelou a Notibras uma servidora contratada pela Global, empresa que terceiriza mão-de-obra especializada para o Governo do Distrito Federal.
Ao contrário do que se possa imaginar, o assédio não é contra mulheres de baixa instrução. As vítimas têm curso superior completo, ou estão cursando uma faculdade. São de classe média e resolveram falar para acabar com o que classificam de crime contra a dignidade do ser humano.
– Trabalhei para a Global porque preciso de um salário. Mas jamais imaginaria que fosse passar por uma situação dessas, sublinhou uma servidora que fez a opção de demitir-se a se sujeitar a propostas indecorosas do chefe imediato.
“Minha vontade foi a de esbofetear meu ex-chefe, quando ele propôs darmos uma saída no horário do expediente e voltarmos com os cabelos molhados”, enfatizou uma outra ex-funcionária ouvida por Notibras. “Claro que ele (o chefe imediato) queria me levar a um motel”, segundo o entendimento da depoente. A proposta, porém, diz, “foi prontamente rechaçada”.
Uma das ocorrências registradas na Delegacia da Mulher, conforme indica o fac-símile que ilustra este texto, foi feita na noite da segunda-feira 19. A autoridade policial começou a ouvir o depoimento por volta das 20h30. O relato se estendeu até pouco antes das 23 horas.O número da ocorrência e do protocolo foram cobertos para evitar a identificação da vítima.
O acusado citado na denúncia formulada na segunda-feira 19 é Nelson dos Santos Paschoal, 52 anos, encarregado de serviços gerais do Planetário de Brasília. As vítimas, na grande maioria, têm idade entre 25 e 30 anos. São mulheres jovens, bonitas, invariavelmente solteiras, que trabalhavam (e outras que ainda trabalham) como monitoras do Planetário.
Na ocorrência policial a que Notibras teve acesso, consta que as agressões sexuais e assédio moral transcorreram entre os meses de agosto e dezembro do ano passado. Sobre o fato de as denúncias estarem sendo feitas somente agora, as vítimas são unânimes em afirmar que temiam represálias.
Embora a Polícia Civil tenha negado o registro de ocorrência das denúncias apresentadas por Notibras no fim de semana, a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional DF, promete entrar nas investigações. Informações preliminares indicam que o Departamento de Atendimento à Mulher da OAB vai ouvir as denunciantes nos próximos dias. Acionado, o Ministério Público também estaria propenso a participar das averiguações.
Karla Maranhão