O Haiti está prestes a alcançar um grande marco histórico. A partir de 9 de agosto, aproximadamente 6 milhões de haitianos escolherão 1.280 representantes para administrações locais, 140 prefeitos, 139 parlamentares e, finalmente, seu presidente, em vários turnos de um processo eleitoral que pode durar até o final do ano.
Não foi fácil chegar a esse momento. O povo haitiano espera há três anos por essas eleições e o parlamento está ausente desde janeiro.
O Haiti deu passos significativos para restaurar a confiança no processo eleitoral e realizar essas eleições a tempo. O conselho eleitoral, nomeado em janeiro, tem sido admirável ao assumir várias tarefas desafiadoras do ponto de vista técnico, logístico e financeiro a fim de garantir um processo confiável, inclusivo e transparente.
A lei e o calendário eleitorais foram promulgados em março, a maioria dos partidos políticos apresentaram candidatos, e a polícia nacional tem trabalhado para assegurar um ambiente seguro para as eleições.
A missão de paz das Nações Unidas no Haiti, conhecida como Minustah, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outros parceiros da ONU têm empreendido esforços significativos nos últimos anos no fortalecimento das qualificações eleitorais nacionais.
Muito trabalho já foi realizado, porém muito mais precisa ser feito para completar essa operação eleitoral de tamanha escala e complexidade. Até agora, o esforço conjunto das autoridades nacionais e dos doadores internacionais tem gerado recursos suficientes para financiar apenas o primeiro turno das eleições em 9 de agosto.
Não podemos parar por aqui. Apelamos a todos os parceiros internacionais do Haiti para intensificarem seus esforços e apoiarem o Haiti no cruzamento a linha de chegada dessa corrida rumo à paz e à estabilidade.
Enquanto contribuições importantes foram recebidas dos parceiros do Haiti, há uma lacuna crucial que precisa ser coberta. Sem esse apoio, a conclusão do ciclo eleitoral corre o risco de ser prejudicada, assim como o progresso duramente conquistado do Haiti.
Essas eleições marcarão o período mais longo de estabilidade institucional de que o país desfrutou em sua história recente. Será a segunda vez, desde 2006, que um presidente eleito democraticamente passará o poder a seu sucessor. O processo terá efeito positivo na região, promovendo desenvolvimento socioeconômico e estabilidade regional.
Se é importante que os parceiros internacionais do Haiti continuem a apoiar generosamente o processo democrático do país, é igualmente crucial que o governo do Haiti administre esse processo de forma adequada e garanta que suas instituições tenham tudo o que for necessário para assumir o comando das eleições.
No último 16 de julho, as Nações Unidas, o governo do Haiti e parceiros internacionais reuniram-se em Nova York em um encontro copresidido pelo primeiro ministro e pelo representante especial do Secretário Geral da ONU para o Haiti. Essa foi uma grande oportunidade de reafirmar o compromisso comum com a consolidação democrática do país e nossa solidariedade com as aspirações e esperanças dos haitianos no progresso.
O povo do Haiti tem lutado por décadas para consolidar a democracia no país. Em 1986, uma revolta popular derrubou o regime Duvalier. Hoje, em 2015, há mais de 38 mil candidatos somente para as eleições locais. Uma democracia vibrante está viva e passa bem no Haiti, e o povo haitiano reconhece que a governança é responsabilidade de todos.
Em todo o planeta, em países onde democracia, boa governança e respeito às leis é a regra, o poder político é contestado por meios pacíficos e democráticos. Cidadãos adotam métodos pacíficos e democráticos para resolver os problemas que enfrentam. O diálogo e a tolerância tornam-se a ordem do dia. O Haiti, uma das democracias mais antigas do mundo, está pronto para essa transição e merece nosso apoio total.
Hervé Ladsous e Jessica Faieta