Crítica ou elogio?
Demônios coloridos comandam a tonga da mironga do kabuletê
Publicado
emEntregues às ratazanas do deserto e aos mercadores da fé do Congresso, às baratas tontas do eleitorado e aos corvos e jararacas da elite, o comando político e econômico do Brasil está ao Deus dará. Diante dessa catástrofe, cabe perguntar o que será dos 10% dos brasileiros que ainda sonham com um país sério e para todos? Pouca coisa ou nada de bom. Na verdade, resta rezar. E muito. Preferencialmente com um olho aberto. Por isso, oremos para que os sanguessugas, também denominados senadores e deputados federais, estaduais e distritais, deixem a pátria ou que sigam para logo ali na ponte do preteriu, ao lado da taquilpa.
É um pouco mais longe, mas, caso prefiram, serão bem-vindos àquele lugar que lembra uma expressão idiomática que pode ter vários significados, entre eles o de coisa suja, sem qualidade ou nenhuma utilidade. Metaforicamente, anos atrás diriam a cada um deles que fossem à tonga da mironga do kabuletê. Hoje, a tonga da mironga do kabuletê é aqui. Metafísica e mentalmente limitados, provavelmente poucos políticos e eleitores castrados da razão entenderão que a expressão criada na época da ditadura dos anos 60 nada mais é do que um chamado para transformação pessoal e social do povo brasileiro.
Na prática, é um convite para que as pessoas se libertem dos fantasmas e das perversas amarras culturais, orgânicas e financeiras com postulantes a cargos públicos e, sem olha para trás, se permitam experimentar a vida de forma plena, significativa e livre, isto é, democraticamente. Mais do que um convite, é um chamamento para que, juntos, os brasileiros consigam escrever rapidamente um novo capítulo da história política do país. Considerando que, enquanto tiver bambu haverá flecha, passou da hora de trabalhar pelo desaceleramento do espaço onde a bandalheira encontra morada.
Escrevo estas mal traçadas linhas partindo do pressuposto bíblico de que não se pode enaltecer ou mesmo reconhecer aquilo que se supõe conhecido, mas que não se acredita. É o caso do Congresso Nacional e de seus fiéis legisladores em causa própria. Também pode ser o exemplo da falsa pluralidade defendida pelos viúvos da catástrofe ou dos parlamentares enclausurados em meio aos dejetos que produzem. Enfim, qualquer coisa que se diga de ruim do Congresso e dos 584 congressistas é pouco para a porcariada que eles geram por minuto. Em outras palavras, de muitas maneiras, deputados e senadores não são homens ou mulheres que podem ser incluídos na lista dos sérios.
Elas e eles são os grandes predadores da confiança e da credibilidade dos semelhantes, principalmente dos cofres públicos. Para se ter uma ideia da rapinagem, desde 2015, a fatia orçamentária destinada às emendas parlamentares aumentou 11 vezes. Divididos entre Eduardo Cunha, Rodrigo Maia e Arthur Lira, nesse período de nove anos, os gastos subiram de R$ 3,4 bilhões para R$ 37,8 bilhões. Não por acaso, o saltimbanco Eduardo Cunha é conhecido como o idealizador do boom dos valores. Rodrigo Maia é o multiplicador, Lira o executor máximo e, obviamente, o contribuinte, eventualmente chamado de eleitor, é o fantoche do pagador.
Ter algum conhecimento do dia a dia do Parlamento brasileiro leva qualquer eleitor com um mínimo de senso crítico a rasgar o título e nunca mais votar em ninguém. Se houvesse hoje uma votação específica sobre algum comparativo entre os homens públicos do Brasil e seres imaginários, os políticos brasileiros seriam unanimemente eleitos os demônios coloridos da maioria esmagadora dos 156,4 milhões de eleitores. E não há chances de exorcismos pessoais ou em massa porque, entre eles, o pior demônio se chama ego. Apesar da terrível adjetivação, sugiro que não digam aos demônios travestidos de parlamentares que eles são demônios, pois certamente boa parte deles entenderá como elogio.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978