Uma denúncia de roubo na Cinelândia terminou com a prisão de dois jovens e causou tumulto entre guardas municipais e ex-ocupantes do Edifício Hilton Santos, no Flamengo, que estão acampados no local desde a retirada do grupo há uma semana. Um bebê de seis meses quase foi atingido por uma bomba de gás lacrimogênio durante a ação de repressão da GM, na madrugada desta terça-feira, quando os desabrigados protestaram contra a prisão da dupla. Um protótipo do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que está exposto no local, teve um dos vidros quebrados por um pedrada. Eles permanecem acampados no local. Não houve feridos.
Segundo Bruno Leonardo, de 28 anos, que está acampado na Cinelândia com a mulher Lorraine Direlly Silva, de 16 anos, os três filhos do casal e um grupo de cerca de 200 pessoas, retiradas do prédio pertencente ao Clube de Regatas do Flamengo e que está alugado ao grupo EBX, do empresário Eike Batista, por volta das 23h, menores infratores passaram correndo em fuga pela Cinelândia após praticar um roubo. A vítima, na companhia de guardas municipais, passou pelo local pouco depois e disse ter reconhecido o suposto assaltante junto aos acampados. Eles protestaram dizendo que o acusado era inocente e teve início o tumulto.
Agentes do Grupamento de Operações Especiais (GOE) da Guarda Municipal interviram. Segundo os desabrigados, houve lançamento de bombas de gás lacrimogênio. Um dos artefatos caiu numa árvore próxima onde estão acampados Bruno, a mulher e três filhos. Ryan, de seis meses, dormia no momento e, segundo o pai, só não sofreu os efeitos do gás porque foi rapidamente retirado por um menino do grupo de desabrigados.
“Quando fui falar com os guardas que meu filho quase tinha sido atingido pelo gás, fui ofendido, me chamaram de vagabundo e fui ameaçado de agressão. Sou pai de família e vendedor ambulante desempregado. Fiz meu cadastramento em 2009 quando Paes (Eduardo, prefeito do Rio) se candidatou a primeira vez e até hoje não recebi a licença da Prefeitura para trabalhar. Não sou vagabundo”, disse Bruno indignado. O bebê nada sofreu.
Uma senhora de 54 anos, que sofre de esporão do calcâneo (uma condição óssea degenerativa), reafirmou que os detidos não tinham participação no roubo sofrido por uma vítima e que os acampados interviram contra a detenção deles. Ela disse que teve que correr para se abrigar e que quase foi atropelada.
“Foi bomba, muita bomba mesmo. Fomos atacados, chamados de vândalos. Estamos acampados aqui porque não temos moradia. Se tivéssemos estávamos em nossas casas. Queremos resolver o nosso problema. Eles (órgãos públicos) só falam em pegar nossos nomes, fazer cadastro, mas não resolveram nada até agora”, protestou a mulher, que estava nas ocupações ocorridas no prédio da Oi, no Jacaré, e no da antiga sede do Flamengo.
O clima ficou tenso na região e bares que funcionariam até mais tarde, devido ao ferido de Tiradentes, nesta terça-feira, fecharam mais cedo. Durante a confusão, um dos vidros do protótipo do VLT estacionado no meio da Cinelândia, próximo ao Cine Odeon, foi quebrado à pedrada. Peritos da Polícia Civil foram acionados e realizaram uma perícia no local.
Suspeitos foram reconhecidos por vítimas
De acordo com guardas municipais que conduziram os presos para a 5ªDP (Mem de Sá), onde a ocorrência foi registrada, a vítima do roubo atravessou a Avenida Rio Branco, na altura da Cinelândia, pouco depois da ação criminosa de cinco jovens que portavam um facão. Os agentes do Grupamento de Operações Especiais (GOE) realizaram um cerco na região. Pouco depois, um dos suspeitos foi visto deixando a bolsa da vítima na entrada da estação do metrô e se misturando ao grupo de desabrigados acampados na Cinelândia, onde foi detido. O restante conseguiu fugir. A armo não foi encontrada, mas a bolsa foi recuperada. O homem, porém, teve o relógio e a carteira levados.
Após busca no local onde o grupo está acampado, a vítima do roubo detiveram o jovem acusado como participante da quadrilha. Os guardas o detiveram, mas sofreram resistência e houve o tumulto. Na delegacia, segundo policiais civis de plantão, o acusado foi novamente reconhecido pela vítima. O outro jovem detido por desacato durante o tumulto e levado para a 5ªDP acabou reconhecido por duas jovens que registravam uma outra ocorrência de roubo ocorrida na região da Cinelândia. Ambos foram autuados por roubo. As vítimas não quiseram dar declarações aos jornalistas na saída da delegacia.