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Depoimentos de ex-gays racham Direitos Humanos

“Ex-gays” que alegam ser vítimas de dupla discriminação participarão de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A audiência foi pedida pelo deputado e pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP) e “rachou”, mais uma vez, a comissão. Segundo o UOL, parlamentares contrários ao projeto afirmam que a ida de “ex-gays” é uma tentativa de ressuscitar o projeto que ficou conhecido como “cura gay”. Marco Feliciano, no entanto, nega a manobra.

O requerimento para a audiência com “pessoas que deixaram de ser gay” foi aprovado por Marco Feliciano na última quarta-feira (15) durante sessão da Comissão de Direitos Humanos.

Para o parlamentar, que ganhou notoriedade em 2013, quando assumiu a presidência da comissão e enfrentou a resistência de movimentos em defesa dos direitos LGBT, a ideia da audiência é apenas a de ouvir os relatos de preconceito vivido por pessoas que “optaram” por deixar de ser gays.

“Fomos procurados por um grupo relativamente grande de pessoas que afirmam que têm sido vítimas de preconceito quando decidem parar de ser gays. Primeiro eles sofriam preconceito por serem gays, e agora eles sofrem porque deixaram de ser. O objetivo dessa comissão não é ouvir minorias? Qual o problema em ouvi-los?”, indaga Feliciano.

Entre os convidados, está a estudante Raquel Celeste Vasconcelos Guimarães Beraldo, 23. Ela disse ter mantido relacionamentos homoafetivos durante pelo menos cinco anos, mas, aos 20, conseguiu, em suas próprias palavras, se “reorientar” sexualmente. Hoje, ela é casada com um homem.

“Não gosto de usar a expressão cura, mas foi mais ou menos isso o que aconteceu. Procurei auxílio na igreja e fui ajudada por um grupo que me auxiliou a entender o que acontecia comigo. Agora, sofro muito preconceito porque as pessoas dizem que eu estou mentindo para mim mesma e para as outras pessoas. Não é verdade. Sou feliz”, afirmou.

Para a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), a tentativa de levar pessoas que se auto-intitulam como “ex-gays” é uma estratégia para trazer à tona o projeto de lei que ficou conhecido como “cura gay”.

“Ele [Feliciano] quer trazer de volta a discussão sobre a cura gay, só que eles, os fundamentalistas, estão buscando uma nova roupagem para isso. Isso é revoltante. Falar em cura gay só aumenta o estigma em torno de um assunto que nada tem a ver com doença”, afirmou Kokay.

O projeto que ficou conhecido como “cura gay” foi apresentado pelo deputado federal João Campos (PSDB-GO) e previa que psicólogos pudessem oferecer tratamentos a pacientes homossexuais em busca de “tratamento” para a homossexualidade. Campos é o atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso.

Em 1999, uma resolução do Conselho Nacional de Psicologia proibiu a terapia para a “cura gay”. Em julho de 2013, em meio à repercussão do caso, Campos retirou o projeto da pauta da Câmara dos Deputados.

Feliciano nega que o convite a “ex-gays” seja uma tentativa de “ressuscitar” o projeto da “cura gay”. “Não tem nada a ver com isso. Queremos apenas ouvir o relato dessas pessoas. Não tem manobra alguma”, disse.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados vem sendo alvo de disputas entre parlamentares historicamente alinhados com movimentos sociais e defesa de direitos de minorias e parlamentares que pertencem à Frente Parlamentar de Segurança Pública, conhecida como a “bancada da bala”, e à Frente Parlamentar Evangélica, conhecida como “bancada evangélica”.

De acordo com a secretaria da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, apesar de a realização da audiência ter sido aprovada, ainda não há previsão sobre quando ela irá acontecer.

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